À conversa com Vera Fonte
Vera Fonte é pianista e docente, formada pela Universidade do Minho e doutorada pelo Royal College of Music, em Londres. Especialista em memorização musical, desenvolveu investigações colaborativas e foi premiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pelo Royal College of Music. Como intérprete, atuou em diversos países europeus e colaborou com orquestras e compositores de renome, apresentando-se em festivais e eventos culturais como a Capital Europeia da Cultura. Atualmente, é Professora Convidada na Universidade do Minho e Vice-Presidente da EPTA Portugal.
Yamaha: Aproxima-se o IX Encontro Nacional EPTA Portugal, que decorrerá entre 31 de outubro e 2 de novembro. Como descreveria este evento? Vera Fonte: O IX Encontro Nacional faz parte de uma série de congressos organizados pela EPTA Portugal desde 2015, que reúnem investigadores, intérpretes, pedagogos e estudantes de piano para refletir sobre os desafios da performance e pedagogia pianística. A nona edição irá decorrer no Conservatório de Música, Teatro e Dança de Vila do Conde e contará com importantes especialistas internacionais, como Gerlinde Otto e Sondra Tammam, além de pianistas, pedagogos, compositores e editoras musicais portuguesas, contando ainda com a representação da Yamaha. O Encontro inicia-se com o Concerto de Gala, no Auditório Municipal, onde como habitualmente, reputados pianistas interpretarão obras de piano a solo e de música de câmara. O evento vai funcionar também como ação de formação acreditada, através da colaboração com o Centro de Formação CFAE-PVVC da Póvoa de Varzim e Vila do Conde.
Yamaha: Pode falar-nos um pouco sobre a EPTA Portugal e os seus principais objetivos? Vera Fonte: A EPTA Portugal é a delegação nacional da European Piano Teachers Association (EPTA), que reúne associações de quase todos os países europeus e conta com parceiros em todos os continentes. Nos últimos dez anos, a nossa associação tem-se dedicado a desenvolver a formação de intérpretes, pedagogos e estudantes de piano e a promover o diálogo e a troca de conhecimento sobre princípios e técnicas inovadoras de educação pianística. Temos procurado alcançar estes objetivos através da realização de congressos, masterclasses e recitais com destacados nomes do piano, tanto nacionais como internacionais.
Yamaha: Quais são, na sua opinião, os maiores desafios que os pianistas, docentes e alunos de piano, enfrentam atualmente? Vera Fonte: Penso que um dos maiores desafios que os pianistas enfrentam atualmente está relacionado com a constante evolução do mundo musical e com o mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo. Na minha opinião, torna-se essencial que os jovens pianistas encontrem a sua identidade e voz artística e se foquem naquilo que os distingue, para que consigam encontrar o seu lugar neste meio. É preciso também ser capaz de inovar e de corresponder às expectativas do público, mas mantendo o nosso dever de educar os ouvintes e de lhes dar a conhecer a música clássica para piano. Nos dias de hoje também se torna cada vez mais importante desenvolver capacidades de gestão de carreira, de promoção e de preparação para performance em diferentes contextos. Na perspetiva do docente, para mim a maior dificuldade está em adaptar e desenvolver novos métodos de ensino adequados às necessidades e interesses das novas gerações.
Yamaha: Gostaríamos de saber mais sobre o seu percurso enquanto académica e pianista. Em que projetos se encontra envolvida neste momento? Vera Fonte: Durante o meu percurso académico e profissional sempre procurei conciliar a performance, a docência e a investigação, porque acredito na importância de integrar a teoria com a prática. Depois de concluir a Licenciatura em piano na Universidade do Minho com o professor Luís Pipa, segui para o Mestrado em Ensino na mesma instituição e foi aqui que descobri a investigação na área da memorização musical, um elemento que tinha um impacto direto na minha performance em palco. Esse interesse levou-me a realizar um Doutoramento no Royal College of Music e a desenvolver investigação na área da memorização e outras áreas da psicologia e ensino da música. Ao nível da pedagogia e investigação, os meus projetos mais recentes têm envolvido a disseminação deste conhecimento que tenho vindo a desenvolver e adquirir. De momento leciono no Royal College of Music um módulo sobre Memorização Musical, em parceria com a Doutora Tânia Lisboa, instituição com a qual continuo a desenvolver trabalho de investigação. Nas instituições portuguesas onde leciono atualmente também invisto na divulgação de aplicações práticas da investigação para a performance e o ensino. Procuro promover também regularmente uma série de workshops práticos sobre memorização musical em escolas de música nacionais e internacionais. Por outro lado, continuo sempre a investir na minha carreira como pianista, continuando a dar concertos a solo e música de câmara, nomeadamente em festivais nacionais e internacionais. Recentemente tenho também participado em diversos concursos de piano internacionais, o que tem contribuído para a promover e desenvolver as minhas capacidades pianísticas através de prémios e gravações.
Yamaha: Como vê a nova geração de pianistas? Qual é a sua perspetiva em relação ao futuro do piano? Podemos confiar que o futuro está garantido? Vera Fonte: Como referi anteriormente, penso que é uma geração que terá cada vez mais de procurar a sua identidade e voz artística e que não se deve acomodar, mas sim procurar sempre novas formas de inovar e de elevar a sua performance. O piano é um instrumento muito versátil, polivalente, capaz de se adaptar a diferentes contextos e continua, a meu ver, a ter ainda um enorme potencial a ser explorado. Os pianistas não devem perder a curiosidade e acredito que se trabalharem com compositores atuais e construtores de instrumentos poderão contribuir para a evolução da forma como o piano é tocado e percebido. Isto vai permitir que a performance pianística evolua e se reinvente e irá certamente aumentar as possibilidades de evolução do instrumento.
Yamaha: Sendo também docente, que conselho daria aos jovens que desejam iniciar-se na música, em especial no piano? Vera Fonte: O principal conselho que gostaria de dar aos jovens que desejam iniciar-se na música, especialmente no piano, é que mantenham vivo sempre o gosto pelo instrumento e nunca percam a perseverança e dedicação. O piano é um instrumento que exige muita prática e esforço, mas a recompensa é enorme. A experiência de tocar e expressar-se musicalmente através deste instrumento é única e inigualável. O percurso é desafiante, mas cada pequeno progresso acaba por nos trazer enorme satisfação. O importante é sempre tentar manter vivo o gosto pela música e pelo piano e não esquecer que, apesar do esforço, deverá ser sempre um prazer.
Yamaha: Falando de instrumentos, conhece a nova geração de pianos artesanais SX da Yamaha, que será utilizada no concerto de abertura do IX Encontro Nacional EPTA Portugal? Se sim, que opinião tem? Vera Fonte: Tenho tido a oportunidade de acompanhar os novos modelos de pianos artesanais da Yamaha e, na minha opinião, é de louvar o investimento que a Yamaha tem feito para melhorar ainda mais o equilíbrio tímbrico, bem como possibilitar ao pianista um controlo cada vez maior do instrumento.
Yamaha: Após o sucesso do seminário “O Piano Hoje” no VIII Encontro Nacional EPTA, a Yamaha regressa agora com um seminário focado nos pianos híbridos, como o TransAcoustic e o Disklavier. Qual é a sua opinião sobre a interligação da tecnologia com a aprendizagem musical? Acredita que a tecnologia enriquece esta experiência? Vera Fonte: Sem dúvida. Eu acredito que a tecnologia, aliada à aprendizagem musical, expande consideravelmente as possibilidades educativas, tornando-a mais acessível e dinâmica. O sistema TransAcoustic, por exemplo, resolve um problema comum entre pianistas, que é a dificuldade de estudar a qualquer hora. O facto de manter as características do piano acústico, mas permitir controlar o volume, acaba por resolver um problema que todos os pianistas enfrentam muito frequentemente. Além disso, o Disklavier proporciona uma forma de aprendizagem mais interativa e envolvente. Durante o seminário 'O Piano Hoje' no VIII Encontro Nacional da EPTA, achei especialmente interessante a possibilidade de focar numa parte da música enquanto o piano tocava a outra. Essa abordagem não só facilita o estudo, como também estimula a compreensão musical e a prática em grupo, o que acaba por enriquecer muito a experiência do pianista.
Yamaha: No que toca ao ensino e à evolução dos jovens estudantes, quão importante considera ser a qualidade do piano disponível para a sua prática diária? Vera Fonte: A qualidade do piano disponível para a prática diária do pianista é fundamental. Quando estudamos procuramos melhorar o nosso controlo e conhecimento do instrumento. Para podermos realmente dominá-lo e explorar as suas possibilidades técnicas e sonoras, é imprescindível ter acesso a um piano que responda de forma adequada às nossas intenções musicais.
Yamaha: Agradecemos muito o tempo que nos dedicou. Gostaria de deixar uma mensagem final para os nossos leitores? Vera Fonte: Gostaria de deixar uma mensagem de agradecimento à Yamaha pelo apoio inestimável que tem dado aos eventos da EPTA Portugal nos últimos anos, bem como a todas as outras entidades que nos apoiaram especificamente nesta edição, em particular a Câmara Municipal de Vila do Conde, o Conservatório de Teatro, Música e Dança e o Centro de Formação CFAE-PVVC da Póvoa de Varzim e Vila do Conde. Por fim gostaria de apelar a todos os interessados nas áreas da performance e pedagogia pianística que se juntem a nós em Vila do Conde, para mais um momento de partilha e diálogo com personalidades proeminentes do nosso meio.