À conversa com Luís Pipa
Arranca já no dia 1 de Setembro a 44ª do Congresso Internacional da EPTA no histórico Teatro Jordão, em Guimarães. Aproveitamos esta ocasião para conversar com o presidente da EPTA Portugal, o Prof. Luís Pipa. Falamos do congresso, da carreira do Prof. Luís Pipa, sobre a música, e claro, sobre o piano.
Doutorado em Performance pela Universidade de Leeds, Master of Music in Performance Studies pela Universidade de Reading, diplomado em piano com distinção pelo Conservatório de Música do Porto, estudou ainda na classe de concerto de Noel Flores na Academia Superior de Música e Artes Dramáticas de Viena (Áustria). É professor de piano e música de câmara na Universidade do Minho, sendo atualmente presidente da delegação portuguesa da European Piano Teachers Association (EPTA) e Vice Presidente da EPTA internacional.
Yamaha: Durante os dias 1 a 4 de Setembro vai decorrer em Guimarães a 44ª Edição da Conferência Internacional da EPTA, pode-nos falar um pouco sobre este evento e esta edição em particular? Luís Pipa: A EPTA organiza anualmente uma conferência internacional, em países diferentes, cabendo à EPTA-Portugal a honra de organizar este ano. É uma enorme responsabilidade, uma vez que acolhemos alguns dos maiores especialistas internacionais da performance e pedagogia do piano, que realizarão palestras, recitais/conferência, workshops, painéis de discussão, etc. Os dois últimos anos foram marcados pela pandemia, tendo inclusivamente a conferência de 2020 da responsabilidade da EPTA-Alemanha, que deveria ter tido lugar em Bona, por ocasião dos 250 anos do nascimento de Beethoven, sido forçada a realizar-se on-line. Em 2021, a EPTA-Espanha conseguiu realizá-la presencialmente em Madrid, mas ainda estavam muito presentes as restrições da pandemia. Este ano esperamos retomar em pleno a participação presencial, e por isso atribuímos à conferência o título “Piano Teaching and Performing: Renewal After the Pandemic” (“Ensino e Performance do Piano: Renovação Depois da Pandemia”). Não só queremos retomar as formas tradicionais de apresentação presencial, mas também discutir a forma como os tempos de pandemia potenciaram o desenvolvimento de tecnologias específicas e novas formas de ensino à distância. O histórico Teatro Jordão, recentemente restaurado e remodelado, sediará a Conferência. O programa cultural também inclui um cocktail de boas-vindas e concerto com Mário Laginha e Camané, nos jardins do Museu Alberto Sampaio, um concerto do pianista António Rosado com a Orquestra de Guimarães, este também aberto ao público no Centro Cultural Vila Flor, no dia 2 de setembro, e, um Jantar de Gala na Pousada Mosteiro de Santa Marinha, com um concerto de música tradicional portuguesa proporcionado pelo Quarteto de Júlio Pereira.
Yamaha: Fale-nos um pouco da ETPA e quais os seus principais objetivos? Luís Pipa: A EPTA-Europe é a associação-mãe de todas as delegações europeias da EPTA (European Piano Teachers Association). Fundada em 1978, por Carola Grindea, em Londres, a EPTA tem como principal objetivo a organização de congressos, workshops, concertos, seminários, concursos, entre outros eventos, para a divulgação da prática pianística. Todos os anos é realizada uma Conferência Internacional, que reúne todas as Associações da EPTA A EPTA-Portugal, foi assumida em 2014 pela associação EPTA-LUSA – Associação de pianistas e professores de piano. Ao longo de oito anos a EPTA-Portugal já realizou seis edições do Encontro Nacional, evento onde reúne investigadores, pianistas e professores de piano, num espaço de reflexão sobre desafios que enfrentam hoje na sua profissão. Paralelamente, organiza também anualmente um Festival de Piano e masterclasses no verão, que tem decorrido com enorme sucesso na Vila de Ponte de Lima, com o apoio do município local.
Yamaha: Depois de dois anos tão complicados, quais são os maiores desafios que se colocam? Luís Pipa: Essencialmente o retomar da confiança nos concertos, conferências e ensino presencias. Julgo que um dos maiores desafios será evitar um possível “comodismo” que possa levar músicos, público, professores e aluno a adotarem uma atitude passiva e pensarem que tudo poderá ocorrer à distância, sem sair de casa. A prática musical com público ao vivo e o ensino presencial, em particular do instrumento, são fatores absolutamente cruciais na preservação da arte ao seu mais alto nível; paralelamente, a proximidade da partilha de conhecimento em eventos como o da 44th EPTA Conference é essencial para uma convivência de proximidade que considero ser essencial manter, em particular, seguindo o espírito desta grande associação internacional.
Yamaha: Este ano foi possível reunir um número considerável de conferencistas e participantes. A que atribui este sucesso? Luís Pipa: Por um lado, tenho a convicção de que as pessoas estão ávidas de retomar o convívio e a partilha presenciais, que têm sido elementos fundamentais nas anteriores conferências da EPTA; por outro lado, passando a imodéstia, A EPTA-Portugal tem granjeado um assinalável prestígio junto das suas congéneres internacionais, designadamente crescimento sustentado dos últimos anos e pelo sucesso das suas organizações (Encontro Nacional e Piano Festival & Masterclasses), em que têm participado numerosos convidados internacionais de prestígio, e cujas referências elogiosas têm feito eco global. Para além do mais, capacidade de atração do país e em particular da cidade histórica de Guimarães, assim como o aliciante programa científico, artístico e cultural da conferência, são também fatores decisivos para este sucesso.
Yamaha: O Prof. Luis Pipa é um pianista consagrado, qual é o segredo de uma carreira tão consistente e prolífica, e em que projetos está a trabalhar atualmente? Luís Pipa: O segredo é nunca parar de tocar, nunca para de ter projetos e objetivos, enfim, nunca se acomodar. Felizmente tenho sabido conciliar a minha atividade concertística com a de professor na Universidade do Minho, onde o ensino do piano no nível superior me obriga constantemente a refletir e a transmitir ideias sobre obras importantes e, consequentemente, a dominar esse repertório. Paralelamente, ainda vou tendo tempo para escrever sobre técnica e interpretação pianística, e ainda ir compondo algumas obras. Os próximos projetos, incluem, aliás, a publicação de um livro sobre dedilhação e de algumas obras minhas para piano e trio com piano. Tenho também encomendada uma obra para piano para estrear nas comemorações do centenário da escritora Maria Ondina Braga, em janeiro de 2023. Para além disso, tenho projetadas algumas gravações, designadamente um CD com sonatas para piano, os segundos volumes de obras de Phillip Scharwenka e Óscar da Silva, e ainda a gravação integral das sonatas para piano de Mozart, projeto que tem sofrido alguns percalços, mas que espero conseguir levar a bom porto.
Yamaha: Como descreve a nova geração de pianistas? Temos o futuro assegurado? Luís Pipa: Temos uma geração muito promissora de jovens pianistas portugueses, com uma boa preparação técnica e um domínio de repertório muito significativo. No entanto, neste mundo extraordinariamente competitivo a nível global, apenas se distinguirão os que apresentarem um conhecimento profundo e se distinguirem pela sua personalidade.
Yamaha: Uma vez que também é um docente com créditos reconhecidos, qual o conselho que daria aos jovens que se querem iniciar na música, particularmente no mundo do piano? Luís Pipa: Diria que devem sentir uma grande paixão pela música e pelo seu instrumento. Só essa paixão os poderá levar a ter a resiliência para, através de um estudo consciente e sistemático, adquirir o conhecimento e destreza necessários para atingir uma expressão convincente e individualizada na sua arte.
Yamaha: Falando de pianos, já conhece a nova geração dos pianos artesanais SX da Yamaha? Luís Pipa: Tive ocasião de contactar com alguns modelos numa viagem recente à Alemanha, mas não cheguei a tocar ainda em concerto. Pareceram-me, no entanto, instrumentos muito equilibrados e fiáveis, estando muito curioso em conhecê-los mais em profundidade.
Yamaha: O piano Yamaha S7X utilizado na conferência tem incorporado também o sistema, exclusivo da Yamaha, Disklavier. Qual é a sua opinião sobre a introdução e interligação da tecnologia com o mundo da aprendizagem, particularmente depois de dois anos em que o ensino presencial foi tão complicado? Luís Pipa: Como disse anteriormente, o ensino presencial nunca poderá ser descartado. No entanto, estes dois anos ensinaram-nos que tudo pode voltar a acontecer a qualquer momento e o mundo terá que estar preparado para isso. Nesse sentido, parece-me que o sistema Disklavier pode reunir o melhor dos dois mundos para todas as ocasiões. A apresentação da Yamaha que terá lugar na conferência será uma oportunidade privilegiada para ficar a conhecer melhor as suas características e potencialidades.
Yamaha: Durante a 44ª edição da conferência EPTA a Yamaha vai organizar o seminário “O Piano Hoje”, que percorre a história e os desenvolvimentos tecnológicos aplicados ao piano. Qual é a sua opinião sobre as tecnologias que a Yamaha foi introduzindo ao logo dos anos, nomeadamente as tecnologias Silent, TransAcoustic e novamente Disklavier, que visam facilitar e melhorar a forma com os alunos e profissionais podem praticar e estudar? Luís Pipa: A vida intensa de um pianista não se compadece com restrições no seu horário de estudo. A introdução de tecnologias que preservam a qualidade do instrumento acústico ao mais alto nível, combinando com a possibilidade de prolongar o tempo de estudo sem perder qualidade é uma mais-valia inestimável.
Yamaha: No que respeita à aprendizagem, motivação e evolução dos jovens estudantes, que importância atribui á qualidade do piano que têm disponível para estudar? Luís Pipa: É absolutamente essencial que o aluno tenha um piano de qualidade para o seu estudo. A verdadeira arte da interpretação pianística tem fundamentalmente que ver com o controle da sonoridade nos seus diversos planos, incluindo os sons harmónicos potenciados pelo uso criterioso do pedal de sustentação, mas também pelo uso consciente e trabalhado dos outros dois pedais, e só um instrumento mecanicamente sensível e fiável com um timbre rico é que proporcionará esse desenvolvimento ao mais alto nível artístico.
Yamaha: Gostaria de deixar alguma mensagem final? Luís Pipa: Em primeiro lugar, gostaria de deixar um agradecimento à Yamaha por se juntar à EPTA neste significativo evento de âmbito internacional dedicado ao piano. Em segundo lugar, apelaria para todas as pessoas eu estejam ligadas ao piano, quer sejam intérpretes, professores ou alunos, possam aproveitar esta ocasião única para ouvirem concertos e palestras de grandes figuras internacionais ligadas ao piano, inscrevendo-se no congresso a partir da página web: www.epta-portugal.com, onde também poderão aderir como sócios à EPTA-Portugal, engrossando cada vez mais esta comunidade cada vez mais rica e interventiva de professores, alunos e pianistas, com ramificações em todo o mundo.
Congresso Internacional da EPTA 2022 Ensino e Performance do Piano: Renovação Depois da Pandemia Teatro Jordão - Guimarães 1 a 4 de Setembro