À conversa com Nuno Marques
O pianista português Nuno Marques está actualmente radicado em Nova Iorque onde desenvolve a sua carreira e dirige o Porto Pianofest – Festival Internacional de Música do Porto. É um dos pianistas mais activos da sua geração e um músico versátil, sentindo-se igualmente em casa a tocar a solo, música de câmara ou em colaborações com outras formas de expressão artística.
Yamaha: Decorreu em agosto, de 1 a 10, mais uma edição do Porto PianoFest. Pode falar-nos um pouco sobre este evento e esta edição em particular? Nuno Marques: O Porto Pianofest é um festival internacional de música que junta alguns dos mais fortes nomes da cena musical atual com as estrelas de amanhã. Esta edição, a oitava, foi sem dúvida a mais forte que tivemos desde a criação do festival. O Porto Pianofest tem vindo a afirmar-se como uma âncora da cultura em Portugal, sempre com elevada procura por parte do público local, turistas, e público internacional que se desloca ao Porto para desfrutar do festival.
Yamaha: Quais são os principais objetivos deste evento? Nuno Marques: O festival pretende afirmar o Porto e Portugal como um destino cultural de excelência, apresentando a melhor música para todos os públicos. É uma parte importante da nossa missão democratizar a música e eliminar barreiras de acesso, pelo que apostamos em apresentar grande cultura a preços acessíveis a toda a gente.
Yamaha: Agora que voltámos a uma certa normalidade, depois de anos tão complicados, quais são os maiores desafios que se colocam? Nuno Marques: Os maiores desafios são sempre relacionados com a sustentabilidade financeira do festival, poder ter condições para cumprirmos com a nossa missão e levar a cabo os nossos objetivos. O apoio à cultura é sempre escasso pelo é sempre desafiante encontrar patrocínios num contexto como o português, mas felizmente tem corrido tudo pelo melhor.
Yamaha: Este ano foi possível, mais uma vez, reunir um número considerável de participantes de altíssimo nível, com as casas praticamente sempre esgotadas. A que atribui este sucesso? Nuno Marques: O Porto Pianofest tem vindo a afirmar-se ano após ano como um festival de excelência, reunindo grandes mestres e estrelas em ascensão. Essa aposta na qualidade faz com que mais pianistas se queiram juntar a nós e fazer parte deste grande festival. Os grandes pedagogos e artistas convidados que estão connosco a cada edição atraem jovens músicos de grande nível, oriundos de todo o globo, que vêm participar no festival. O nível dos participantes é realmente muito elevado, facto que nos deixa muito felizes, bem como ao público que desfruta dos concertos de alguns destes talentosíssimos jovens músicos.
Yamaha: Nuno Marques é um pianista consagrado, com uma carreira internacional afirmada. Qual é o segredo de uma carreira tão consistente e prolífica, e em que projetos está a trabalhar atualmente? Nuno Marques: Não há realmente segredos. há sim o desejo de fazer grande música, acompanhados de esforço e estudo constante. Essa é para mim a única forma de estar, fico feliz por ver o meu trabalho reconhecido. Neste momento tenho um fim de ano bastante agitado com muitos recitais a solo pelos Estados Unidos e Portugal, colaborações com o Stars of American Ballet e música de câmara com o meu grupo Atlantic Collective. Tenho ainda alguns projectos adicionais que a seu tempo anunciarei. Vão ser uns próximos meses agitados!
Yamaha: Ainda se recorda daquilo que o levou a optar por aprender música? O piano sempre foi o instrumento que quis aprender? Nuno Marques: A ligação ao instrumento surgiu inicialmente pelo piano que tinha em casa dos meus avós, que tinha pertencido à minha bisavó que foi o pianista. A partir daí o desenvolvimento foi natural e ininterrupto até aos dias de hoje. O piano foi sempre a minha grande paixão musical e nunca considerei outro instrumento a este nível. Tenho vindo a estudar direção de orquestra e a dirigir também, no entanto. Enquanto estudante aprendi guitarra e percussão paralelamente, mas foi sempre um complemento à minha atividade principal.
Yamaha: Qual foi o professor que mais o influenciou? Há algum conselho ou conhecimento que continua a transmitir? Nuno Marques: Ao longo da minha carreira tive o privilégio de trabalhar com grandes nomes da música e do piano que me souberam guiar e orientar, tanto em Portugal como no estrangeiro. O meu maior conselho seria que cada músico deve procurar a sua voz e desenvolver o seu caminho individual. Não há nenhuma fórmula mágica, apesar de muitas vezes imperar essa convicção. Há demasiados lugares comuns estabelecidos e torna-se difícil não se deixar levar por essas ideias. A carreira musical é realmente uma maratona e não um sprint, e há muitas decisões que apenas vão mostrar os seus frutos muito mais tarde.
Yamaha: Como descreve a nova geração de pianistas? Temos o futuro assegurado? Nuno Marques: Através do meu trabalho pedagógico no Porto Pianofest tenho tido a oportunidade de trabalhar com muitos jovens talentos de todo o mundo ao longo dos últimos anos. Há uma mudança natural através que é refletida na forma de estar e na forma de tocar em cada geração. Tenho constatado com muito agrado que a próxima geração é muito forte, bem preparada, com muito talento e muita vontade de fazer coisas boas. Penso que o futuro da música está realmente em boas mãos.
Yamaha: Uma vez que também é docente, qual o conselho que daria aos jovens que se querem iniciar na música, particularmente no mundo do piano? Nuno Marques: O meu conselho seria no sentido de que trabalhem de forma séria, diligente, honesta e paciente. Que saibam que não há atalhos para o trabalho de qualidade que têm que desenvolver, que o caminho é longo, mas cuja recompensa vale a pena.
Yamaha: Falando de pianos, já conhece a nova geração dos pianos artesanais SX e CF da Yamaha? Nuno Marques: Conheço bem a nova geração de pianos artesanais Yamaha. Tenho tido a oportunidade de tocar neles frequentemente, inicialmente em Nova York e depois também trazendo esses pianos ao Porto Pianofest. São realmente instrumentos fantásticos e que abrem um novo campo de possibilidades para os pianistas. Uma maravilha!
Yamaha: No que respeita à aprendizagem, motivação e evolução dos jovens estudantes, que importância atribui à qualidade do piano que têm disponível para estudar? Nuno Marques: A qualidade do instrumento é absolutamente essencial para a qualidade do estudo. Há muito trabalho sério, obviamente, que se pode fazer em pianos menos bons. No entanto, no que toca à produção de som ou ao trabalho técnico, não há nada como um piano de qualidade e em excelente estado de manutenção para podermos realmente evoluir e desenvolver o nosso trabalho.
Yamaha: A Yamaha oferece e leva até às escolas uma série de seminários educativos intitulados "O Piano Hoje", nos quais serão abordados a história e os avanços tecnológicos aplicados ao piano. Gostaríamos de saber a sua opinião sobre a introdução e a interligação da tecnologia com o mundo da aprendizagem. Como vê o papel da tecnologia no enriquecimento da experiência de aprendizagem musical? Nuno Marques: A tecnologia está inserida em todos os outros elementos da nossa vida pelo que a interligação com a aprendizagem é não só óbvia, mas necessária. A tecnologia pode ter um papel importante a desempenhar na experiência de aprendizagem levando à obtenção de melhores resultados, também de forma mais eficiente. Há que usá-la de forma intencional e consciente do papel importante que pode desempenhar.
Yamaha: Gostaria de deixar alguma mensagem final? Nuno Marques: Como disse antes, a carreira musical é muito longa, é uma maratona e não um sprint. Temos que nos rodear de bons músicos, professores, colegas, amigos, que nos façam evoluir sempre. O resto virá por si!