À conversa com Paulo Oliveira

Paulo Oliveira, nascido em 1979 em Vila do Conde, é um destacado pianista português. Iniciou os estudos aos nove anos com Joaquim Bento e completou a sua formação na Academia de Música de São Pio X e na Escola Superior de Música de Lisboa com distinção. Aperfeiçoou-se com Sequeira Costa na Universidade do Kansas, onde concluiu mestrado e doutoramento com bolsas de estudo. Premiado em vários concursos internacionais, atua como solista e em música de câmara, em diversos países. Além da carreira de concertista, é professor e orientador de masterclasses, sendo membro fundador da EPTA em Portugal.

Yamaha: Aproxima-se a 5ª Edição do Festival de Piano da Serra da Estrela, agendada para os dias 10 de Junho a 7 de julho de 2024. Como descreveria este evento e de que forma tem evoluído ao longo do tempo?
Paulo Oliveira: O Concurso de Piano da Serra da Estrela e o Festival de Piano da Serra da Estrela é, para mim, um exemplo daquilo que se pode e se deve fazer no nosso país, em termos de inovação, persistência e vontade, numa área onde é tão difícil assegurar e conseguir realmente atrair públicos e conseguir os apoios que são necessários para este tipo de espetáculo e de evento. Tem sido com muito prazer que, desde a primeira edição, colaboro e tenho feito o papel de Presidente do Júri do Concurso, também participado e assistido, com muito gosto, aos concertos e outros eventos associados ao festival que eu vejo, desde a primeira edição, tem vindo em crescendo e com passos pequeninos, mas muito sólidos. Tem conseguido ao longo dos anos estabelecer cada vez mais um momento, por assim dizer, naquele período que já sabemos sempre, entre final de junho e início de julho, onde os jovens um pouco por todo o país se deslocam até à Serra da Estrela e a Seia para este evento que, como disse, cada vez mais é conhecido e respeitado e afirma-se por, estando fora daquilo que são os grandes centros urbanos, onde normalmente esse tipo de eventos acontece, acaba por ter uma imagem mais própria e ter uma personalidade quase muito particular. E vejo que, realmente, há coisas que acontecem no Festival de Seia e no Concurso de Seia que só acontecem ali, por causa do ambiente e das pessoas que o organizam, portanto, é com muito gosto que vou anualmente até Seia. Tivemos uma interrupção só de um ano, por causa da pandemia, houve muitos festivais do género que interromperam por dois ou até três anos, mas em Seia conseguiram, com muita coragem, que fosse só mesmo de um ano. E além disso, tem sido realmente um crescimento, como disse, assinalável em termos de qualidade e também de quantidade de alunos, de participantes e de público.

Yamaha: Dado que a música é uma arte e não uma competição, qual é a sua perspetiva sobre o valor dos concursos de piano para os jovens músicos? Como é que estas oportunidades podem inspirá-los a alcançarem novos patamares na sua jornada musical?
Paulo Oliveira: Eu vejo o papel dos concursos de música sempre com um carácter mais pedagógico do que propriamente de competição. É evidente que ninguém participa num concurso, ou muito raramente alguém participa num concurso sem intenção de obter um prémio e de ser premiado. No entanto, com os meus alunos ou com os alunos de outros colegas, a quem posso também às vezes dar conselhos, eu digo sempre que o grande objetivo do concurso termina no dia em que o concurso começa, e qual é então esse objetivo? É todo o trabalho que é desenvolvido, todo o estímulo que é criado à volta das obras e do programa que é trabalhado, e muitas vezes é, neste caso, a ida à Serra da Estrela sem dúvida nenhuma um fator também de lazer, de conhecer novos sítios, conhecer novos colegas, e eu acho que depois o resultado é aquilo que nos interessa. É evidente que isto é mais fácil dizer quando se passa por isso e, alguns anos depois, de fazer alguns concursos, tanto como concorrente como enquanto membro do Júri e, para os jovens candidatos, isso é mais difícil às vezes de aprender e assimilar, porque ficam tristes, porque não ganharam, porque não passaram à final, é normal, também faz parte do processo de crescimento. No entanto, eu acho faz parte do papel dos seus professores, das suas famílias sensibilizá-los para o facto de que o trabalho mais importante foi aquele que foi feito até àquele dia, porque depois no dia a uns vai correr melhor, a outros vai correr um bocadinho menos bem. As sensibilidades dos membros do Júri são diferentes, há formas de tocar que podem identificar mais uma pessoa do que outra, enfim. A avaliação na arte é sempre uma coisa subjetiva, portanto, o ideal é que um resultado menos bom não afete de forma negativa o concorrente, da mesma forma que um resultado muito positivo também não embandeire em arco e não achar que é o melhor do mundo e que já não é preciso fazer mais nada. Portanto, eu acho que o carácter pedagógico e o tipo de aprendizagem devem ser o mais importante e mais trabalhado neste tipo de eventos.

Yamaha: Nesta edição, os participantes terão a oportunidade de tocar num piano Yamaha S7X. Já teve a oportunidade de conhecer este piano, amplamente reconhecido por sua qualidade e excelência?
Paulo Oliveira:Foi com muita satisfação que eu recebi a notícia. Tem sido uma luta e um objetivo grande da organização, já de algum tempo para cá e, mais uma vez prova a perseverança, o estímulo e a vontade que têm de melhorar sempre e de evoluir e é evidente que, para os candidatos, as condições que terão este ano serão muito mais agradáveis e no fundo vão permitir expor de forma muito mais fácil, até para eles, num instrumento como o piano S7X, de uma gama das mais altas da Yamaha. Eu, felizmente, já tive oportunidade de tocar muitas vezes e são pianos que dão ao pianista um conforto muito grande, porque correspondem a tudo aquilo que nós efetivamente preparámos. Infelizmente, muitas vezes quando nos deparamos com instrumentos com muitas limitações, sentimos que ficam sempre aquém do que o instrumento responde, sempre aquém daquilo que gostaríamos de ouvir e este ano ninguém se vai poder queixar quanto a esse aspeto. Estamos muito bem servidos com este piano e, enquanto Presidente do Júri, será um prazer ouvir os candidatos no S7X que vamos ter este ano.

Yamaha: No decorrer do Festival, a Yamaha terá o prazer de oferecer uma série de seminários educativos e inspiradores intitulados "O Piano Hoje", nos quais serão abordados a história e os avanços tecnológicos aplicados ao piano. Gostaríamos de saber a sua opinião sobre a introdução e a interligação da tecnologia com o mundo da aprendizagem. Como vê o papel da tecnologia no enriquecimento da experiência de aprendizagem musical?
Paulo Oliveira: Eu acho que nós temos de nos adaptar aos tempos modernos, em qualquer área em que estamos, embora a música e a tradição musical e, nomeadamente a tradição da aprendizagem do piano e do modelo do recital de piano, eu acho que nunca poderá afastar-se completamente daquilo que foram os modelos que o originaram, mas não perdemos nada em incorporar novos meios, novas tecnologias, em qualquer função. Muitas vezes pode haver um concerto ou recital que use também esse tipo de tecnologia, obviamente num formato diferente daquilo que é o recital tradicional, mas também para o próprio processo pedagógico e didático e de aprendizagem dos alunos acho que, se usadas de uma forma inteligente, de uma forma moderada, controlada, as novas tecnologias só podem ajudar. Nunca poderão naturalmente substituir, ou não deverão substituir, a presença humana na sua essência, porque a máquina nunca vai, por muito que incorporemos e ditemos o que queremos que ela faça, a alma ela nunca vai ter, isso é que faz realmente a grande diferença, mas eu acho que pode ser realmente uma grande mais-valia, usá-la de uma forma controlada, moderada e com alguma conta, peso e medida.

Yamaha: O Professor Paulo Oliveira destaca-se como um dos pianistas mais conceituados da atualidade, com um percurso notável e já várias provas do seu trabalho como intérprete e também pedagogo. Quais são os projetos em que se encontra atualmente envolvido?
Paulo Oliveira: Neste momento, e falando particularmente nos projetos a solo, depois de dois anos em que estive mais centrado no disco Iberian Impressions, que foi um disco composto exclusivamente por música portuguesa e espanhola, estou a trabalhar no novo disco que será gravado agora em julho e que é centrado em Beethoven. Portanto, música não exclusivamente de Beethoven, mas centrado no compositor alemão. Vou deixar o resto dos ingredientes, por assim dizer, da composição do disco e do trabalho para depois ser revelado. E é isso que, em termos de projetos a solo, me tem completado o trabalho atual, um bocadinho mais fora do palco neste momento. No entanto, sempre com outros projetos, no âmbito da música de câmara, ainda hoje acabei o projeto “O Carnaval dos Animais”, aqui no CCB, com a Camerata Alma Mater e a Beatriz Bráz na narração, os desenhos em tempo real do JAS, etc. Portanto, sempre projetos que vão surgindo noutras áreas ou com outras formações, mas a solo efetivamente o principal projeto neste momento é trabalhar para gravar agora no mês de julho e depois lançar no mês de outubro e, a partir daí, tocar ao vivo em vários locais, esse tal projeto centrado em Beethoven.

Yamaha: Muito obrigado pelo tempo que nos dedicou nesta entrevista. Gostaria de deixar alguma mensagem de apelo para que os jovens pianistas participem no Festival de Piano da Serra da Estrela e, em particular, no Concurso e poderem usufruir deste piano S7X?
Paulo Oliveira: Eu acredito que, atualmente, felizmente o Concurso de Piano da Serra da Estrela e o Festival já não precisam de muita divulgação. Obviamente que qualquer divulgação é sempre importante, mas já é um evento conhecido, as pessoas já querem saber quando é que acontece o festival e é fácil, através das redes sociais e do site do Festival, encontrarem as datas e todos os detalhes, regulamentos, etc. Portanto, já não é preciso fazer muita publicidade até porque o concurso não são assim tantos dias, nós gostaríamos de receber todos os jovens que quisessem participar, mas não podemos, porque o limite de participantes às vezes é atingido, dependendo das diferentes categorias. No entanto faço aqui, com todo o gosto, dou um incentivo a que os jovens procurem uma vez mais... Aqueles que já nos visitaram possam voltar, se venceram o primeiro prémio não podem voltar na mesma categoria, mas podem voltar na seguinte, se não venceram podem vir mais uma vez à Serra da Estrela e ir até Seia. E estejam atentos às redes sociais, particularmente do Festival, porque estão lá todos os detalhes e será um gosto, para mim em particular e para todos nós na organização, ver-vos por lá!

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