À conversa com Jill Lawson

* Fotografia de Maria Vasconcelos

Arranca já no dia 23 de junho a 4ª Edição do Concurso de Piano de Oeiras no Auditório Municipal Ruy de Carvalho, em Carnaxide - Oeiras. Aproveitamos esta ocasião para conversar com a presidente do júri, a Profª Jill Lawson. Falamos do concurso, da carreira da Profª Jill Lawson, sobre a música, e claro, sobre o piano.

A talentosa pianista Jill Lawson nasceu no México em 1974, possui a dupla nacionalidade americana e portuguesa e foi educada na Bélgica. Jill aprendeu as notas musicais mais cedo que o alfabeto. Atualmente fala cinco línguas fluentemente, mas quando se trata de comunicar, continua a preferir a música às palavras. Isto porque o seu vocabulário musical é mais vasto e está mais perto da sua alma.

Yamaha: No final do mês ocorrerá a 4ª edição do Concurso de Piano de Oeiras, como descreve este concurso?
Jill Lawson: De facto, o concurso tem vindo a crescer e a evoluir desde a primeira edição, na qual fiz parte do júri. Estando o concurso aberto a concorrentes estrangeiros, torna-se ainda mais interessante do ponto de vista musical, pois possibilita uma interação global com artistas de todo o mundo. Esta dinâmica tem proporcionado oportunidades a novos talentos. Nesta edição há uma nova categoria para candidatos até 32 anos, que contou com a participação de vários pianistas estrangeiros e muito talentosos. A pré-seleção não foi, por essa razão, nada fácil, uma vez que a competitividade entre os participantes aumentou e, inevitavelmente, a qualidade demonstrada pelos concorrentes dificultou a tarefa do júri.

Yamaha: Não sendo a música uma competição, qual a importância deste tipo de concursos para os jovens emergentes?
Jill Lawson: O compositor húngaro Béla Bartók defendia que a competição deveria ser um domínio exclusivo dos cavalos. Todavia, considero que a competição pode ser uma motivação para os músicos emergentes, no sentido em que têm de lidar com a concorrência e, com isso, melhorar o seu desempenho. Por outras palavras, têm de se esforçar para dar o seu melhor e trabalhar com mais empenho para atingir um nível de excelência. Defendo que é sempre importante e gratificante ter um objetivo a atingir. Neste caso específico, o facto de haver um prémio a alcançar propicia um maior empenho e dedicação, pois todos pretendem alcançar maiores e melhores oportunidades.

Yamaha: Este ano foi possível reunir um número considerável de participantes. A que atribui este sucesso?
Jill Lawson: Com certeza devido ao prestígio que o prémio atingiu, à seriedade de quem o promoveu e ao amor à música que nos une a todos. Para mais, afigura-se como uma forma de muitos jovens revelarem o seu trabalho

Yamaha: A Profª. Jill Lawson é uma pianista consagrada, qual é o segredo de uma carreira tão consistente e prolífica, e em que projetos está a trabalhar atualmente?
Jill Lawson: Não há, de facto, nenhum segredo. O segredo reside na qualidade, quantidade e a consistência do trabalho, (como acontece com todos os criadores.) Temos sempre de nos sacrificar (deixar de estar com amigos, com a família, de nos divertir, não ‘prescindir’ do piano por mais de um par de dias). No meu caso particular, tive alguns anos com menos concertos pelo facto de os meus filhos terem passado por situações de saúde complicadas (felizmente agora estão todos bem). Em todo o caso, a dedicação e o amor à música nunca esmoreceu. O sentar-me ao piano sempre se manifestou como uma terapia. Nesta fase, tenho tido oportunidade de estar em palco com mais frequência, o que se tem manifestado como uma experiência muito gratificante. Para mais, as experiências de vida, ainda que mais difíceis, só me fizeram crescer enquanto profissional desta área. Em setembro, irei tocar no Festival de Sintra, em homenagem a Olga Prats, com composições de Astor Piazzolla. No dia 1 de outubro, irei celebrar o Dia de Música, em Faro com a minha première do Concertino de Fernando Lopes-Graça no âmbito do projeto da organização MUSICAMERA “Trio de Damas”, que visa homenagear três pianistas portuguesas do século XX: Helena Sá e Costa, Nella Maissa e Olga Prats. Ainda no âmbito deste projeto, também tenho um recital a solo, que percorrerá alguns palcos do país.

Yamaha: Como descreve a nova geração de pianistas? Temos o futuro assegurado?
Jill Lawson: Enquanto professora e jurada em vários concursos, tive o prazer de contactar com jovens de enorme talento e potencial. No futuro, estou certa de que muitos destes jovens se irão tornar grandes artistas no mundo da música

Yamaha: Qual o conselho que daria aos jovens que se querem iniciar na música e no competitivo mundo dos concursos?
Jill Lawson: O meu conselho não só aos jovens mas especialmente aos pais, é a necessidade de o aluno/a ter um professor adequado pois isso faz toda a diferença, no piano, a técnica (termo que vem do grego ´techne’, que significa ‘arte’, ‘ofício’, uma forma, enfim, de realizar uma ação ou um conjunto de ações) serve de base para se poder exprimir na música, quer para qualquer iniciante quer para um aluno do conservatório. É ao longo destes anos que se forma o iniciante a adotar uma técnica saudável (que inclui uma posição o mais natural possível enquanto se toca). No ensino superior, onde sou professora, deparo-me com vários jovens talentosos que, embora tenham uma musicalidade nata, demonstram dificuldades técnicas básicas. No que se refere aos concursos, o meu conselho é que somente os jovens mais bem preparados e confiantes no repertório a apresentar se devem apresentar a concurso. É também importante entrar na competição com a atitude certa. Os jovens devem estar cientes de que podem ganhar, mas também perder. Independentemente do desfecho, há sempre algo a aprender e a retirar de positivo com a experiência da competição. Mas isso só é possível quando os participantes estão preparados para tal, o que infelizmente nem sempre acontece. As expectativas goradas podem gerar dissabores e desilusões. Em todo o caso, as experiências, positivas ou negativas, servem para melhorarmos com vista a adotar a atitude mais correta.

Yamaha: Falando de pianos, já conhece o piano de concerto Yamaha CFX?
Jill Lawson: Sim, conheço e já tive o privilégio de tocar num piano Yamaha em concerto. É um piano sensacional.

Yamaha: Durante o festival a Yamaha vai organizar uma série de seminários “O Piano Hoje”, que percorre a história e os desenvolvimentos tecnológicos aplicados ao piano. Qual é a sua opinião sobre a introdução e interligação da tecnologia com o mundo da aprendizagem?
Jill Lawson: Faz parte do nosso trabalho. É uma evolução natural. Com o crescente avanço das tecnologias, eu gostaria que criassem algo que permitisse aos membros de um piano duo (dois pianos) ou a quatro mãos ensaiar sem estarem fisicamente juntos. Isso seria maravilhoso, seria uma inovação revolucionária.

Yamaha: No que respeita à aprendizagem, motivação e evolução dos jovens estudantes, que importância atribui à qualidade do piano que têm disponível para estudar?
Jill Lawson: A qualidade do som de um piano faz com certeza a diferença. Em primeira instância temos o som digital versus o acústico. O som que os iniciantes vão associando cada vez que primem uma tecla deve ser um som acústico, de preferência afinado. Muitos jovens iniciam a sua aprendizagem com um piano digital em casa, é compreensível, uma vez que a aquisição de um piano acústico implica um grande esforço financeiro. Portanto, até poderem alugar ou comprar um piano decente, de parede ou de cauda, será essencial (sempre quando possível) praticar num piano acústico (nas escolas, em casa de amigos, etc.), até conseguirem adquirir o seu próprio piano. Em suma, mesmo que não se toque num piano de excelência, é indispensável que este seja acústico e que tenha uma correta afinação.

Yamaha: Gostaria de deixar alguma mensagem final?
Jill Lawson: Obrigada pela oportunidade.

Concurso de Piano de Oeiras
Auditório Municipal Ruy de Carvalho - Carnaxide (Oeiras)
23 a 26 de Junho de 2022

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