Entrevista a Kathryn McDowell

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Para celebrar o Dia Mundial da Mulher do passado 8 de Março de 2021, a rubrica Yamaha de Entrevistas Make Waves teve um convidado muito especial: Kathryn McDowell (CBE) Directora da London Symphony Orchestra.

Por Teri Saccone

No seu desempenho como primeira diretora feminina da London Symphony Orchestra (LSO), Kathryn McDowell tem sido uma autêntica pioneira. A sua liderança ágil, vibrante e inclusiva tem guiado a LSO através de vários desafios de renovação.

Kathryn tem sido bem sucedida num posto altamente cobiçado e multifacetado. Tem guiado a expansão da LSO para se adaptar às emissões digitais e à educação online.

A liderança de Kathryn não se limitou a traçar um caminho, como também conduziu a uma forte representação das mulheres em todos os tipos de funções em toda a LSO.

Embora as mulheres tenham conquistado enormes progressos no mundo empresarial da tecnologia e finanças, raramente tocam o céu das indústrias da música e das artes. Kathryn compreende perfeitamente as nuances.

"Penso que as mulheres têm tido muitos avanços no mundo empresarial», começa Kathryn no seu jeito vibrante e empenhado. «Mas não deixa de ser gratificante ver muitas grandes corporações com mais mulheres diretoras. No mundo das artes, há muitas mulheres impressionantes nos níveis mais elevados de gestão. Mas nem sempre na liderança das instituições. Nos últimos 20 anos houve uma série de nomeações de diretoras nas artes. Mas não mantivemos esses números, uma vez que baixaram. Penso que pode ter a ver com o estilo de vida envolvido, uma vez que, liderar uma companhia de artes performativas, exige um enorme compromisso. Penso que acabei por me focar totalmente nisso. E esse papel ajusta-se bem a algumas mulheres. As mulheres jovens – e os homens jovens também – começam a procurar um melhor equilíbrio entre profissão e vida pessoal. Tenho a certeza de que encontraremos uma forma de encontrar um melhor equilíbrio ao sair da pandemia. Mas ainda não estamos lá."

A LSO – através da sua procura activa por novos talentos musicais – cultiva relações com muitas mulheres compositoras que se tornaram estrelas em ascensão por direito próprio.

"Ajustámo-nos para incluir mais compositores de diversidade no nosso programa," diz Kathryn.. "Ao longo dos últimos 15 anos temos feito muito trabalho com jovens compositores, uma elevada percentagem são mulheres. Tem sido realmente inspirador vê-las a alcançar um grande sucesso. Pessoas como Ayanna Witter-Johnson, Hannah Kendall, Cevanne Horrocks-Hopayian, Sasha Siem e Helen Grime. Deixam-nos orgulhosos por termos optado por este esquema."

Com 2021 a marcar o seu 16º aniversário como Diretora da LSO, Kathryn reflete sobre o seu mandato. "Tem sido realmente agradável," », admite enfaticamente. "Nunca havia ocupado um cargo durante tanto tempo.

Mas houve sempre algo de novo a fazer, houve sempre um novo desafio a enfrentar. Diria que demorei, pelo menos, dois anos para ganhar as rédeas da LSO e para compreender como funcionava. Depois quisemos desenvolver o trabalho internacional, a educação, os projetos comunitários e o LSO Live, num processo até aos Jogos Olímpicos de Londres 2012, onde tivemos um papel de grande protagonismo na cerimónia de abertura. Os nossos jovens também estiveram muito envolvidos nisso. Além de tudo, tornar Simon Rattle no Diretor Musical e toda a integração do seu envolvimento. Depois avançámos até ao último ano e à situação da Covid."

Nesse tópico, a LSO geriu compassivamente a crise, criando um fundo para que os seus músicos sem licença continuassem a ser pagos durante os períodos de confinamento.

"Não havia outra opção a não ser ajudá-los», diz Kathryn. «Formam uma orquestra de músicos de classe mundial e jamais conseguiríamos estar de consciência tranquila se não tivéssemos tratado deles, pois teríamos falhado o nosso dever. E a LSO é uma instituição de caridade registada e seguimos as boas práticas que daí advenientes como uma organização cooperativa. Penso que é uma boa maneira de lidar com uma crise e de garantir o progresso desta grande orquestra."

É evidente que a perspicácia comercial e a natureza de Kathryn foram fundamentais no seu sucesso. Mas que outros aspectos do seu trabalho considera cruciais para este papel?

"Penso que é preciso compreender como funciona a música», responde. «Acredito que não seria fácil fazer o meu trabalho se a minha experiência passada fosse puramente financeira ou administrativa, porque é preciso compreender como os músicos trabalham e o que estão a tentar alcançar. Sempre procurei ter relações construtivas, harmoniosas e positivas. Há uma certa tensão que é útil para conseguir fazer as coisas. Mas a energia negativa não faz parte disso, é contraproducente."

Tratando-se de instituição de caridade, manter as parcerias da LSO é uma parte importantíssima do trabalho.  "Trabalhar com os nossos vários parceiros é um elemento extremamente importante para o que fazemos», afirma Kathryn. «A LSO sempre trabalhou intensamente com parceiros internacionais. Consegui desenvolver e alargar esses parceiros. Trata-se de uma indústria muito pessoal. É crucial desenvolver confiança, manter a lealdade e os compromissos sólidos."

Quando não está em digressão, normalmente, a LSO atua em Londres na sua sede no Barbican Centre. Apesar de os confinamentos terem lesado os concertos, o abrandamento da agenda proporcionou a oportunidade para expandir a actividade digital da LSO..

"Normalmente realizamos cerca de 70 concertos por ano no Barbican, onde estamos sediados desde o início dos anos 80», diz Kathryn. «É um grande compromisso e também passamos cerca de 12 semanas por ano em digressões internacionais. Durante o confinamento, para contrariar a falta de espetáculos ao vivo, trabalhámos no desenvolvimento do nosso potencial digital. Penso que o nosso futuro será uma mistura de espetáculos digitais e algumas atuações ao vivo."

Nascida nos arredores de Belfast, Kathryn cresceu como filha única. Logo em criança demonstrou aptidão natural tanto para o desporto como para a música.

Após completar uma licenciatura musical na Universidade de Edimburgo, viajou para Viena para participar num programa de ajuda a refugiados políticos. Ao regressar ao Reino Unido, concentrou-se exclusivamente na sua carreira, trabalhando para a The Scottish Chamber Orchestra, a The Arts Council e a Welsh National Opera até se juntar à LSO em 2005.

Sendo ela própria uma mulher inspiradora, quem inspirou Kathryn?

"Ao longo dos anos, tive a sorte de trabalhar com algumas pessoas realmente fantásticas," relata. "Em criança tive uma professora de piano absolutamente inspiradora, era fabulosa e muito dedicada aos seus jovens alunos. Depois, quando comecei a trabalhar nas artes, tive sorte com a minha primeira chefe – uma mulher chamada Sue Harries – na Welsh National Opera, que foi um modelo a seguir realmente inspirador."

A disciplina que adquiriu precocemente, para se destacar tanto no desporto como na música, tem sido determinante para o seu sucesso ao longo da vida.

"Fui educada para desfrutar da vida, mas também para ser bastante disciplinada ao vivê-la», acrescenta. «A prática do piano foi uma parte muito importante da minha infância. O mesmo com o desporto. Nessas áreas, é preciso trabalhar muito, caso contrário não terás sucesso. Sabia que não queria ser instrumentista, mas não tinha a certeza do que queria fazer. No entanto, a disciplina de tocar e praticar é algo que ficou sempre comigo. Quando se toca um instrumento está-se a aprender algo para a vida."

Um marco importante na carreira de Kathryn foi a sua distinção, há alguns anos, como Comendadora do Império Britânico (CBE).

"Fiquei encantada e a minha mãe, que ainda estava viva na altura, e ficou felicíssima," recorda. "Foi completamente inesperado. Não fazia ideia de ter sido nomeada, pelo que foi uma surpresa muito agradável. Sei que existem críticas ao sistema de honra. Mas é preciso tomá-lo pelo que ele é. É um reconhecimento de um tipo de contribuição de alguém e uma celebração disso. Encanta-me ver uma comunidade bastante mais diversificada de pessoas a surgir e a ser reconhecida nos últimos anos. Por isso, fiquei muito emocionada por recebê-la."

Tendo trabalhado diligentemente para construir uma carreira excepcional, a perspectiva de Kathryn sobre como visualiza a trajectória de carreira de alguém é bastante singular.

"Penso que, por vezes, ao debater as oportunidades e os objetivos de carreira das pessoas, elas tendem a descrevê-lo como uma 'escada', como se uma carreira fosse algo que tivesse um impulso ascencional muito definido," explica. "Mas penso que não é necessariamente assim que funciona. A imagem que sempre preferi é de uma árvore que procuramos subir. Quando estamos num determinado ramo, se formos ao seu extremo e sem apoio, esse ramo pode tombar. Podes querer voltar para o centro da árvore e subir outro ramo. Assim, subirás a árvore gradualmente, ainda que não se siga uma linha reta. Não é a escada no centro da árvore, o tronco da árvore, trata-se mais de navegação na subida."

 
Com 2021 a avançar, Kathryn está entusiasmada com a promoção do Discovery Programme da LSO, um projeto de alcance social que procura educar jovens aspirantes a músicos de várias proveniências socioeconómicas.

"O trabalho que realizamos na área educativa da comunidade está intimamente relacionado com a próxima geração, "Kathryn entusiasma-se. "E se queremos prosperar como organização no futuro, temos de estar atentos aos temas e questões do nosso tempo e das necessidades e interesses da nossa geração mais jovem. Temos de nos envolver com eles e essa é a alegria do Discovery Programme. Hoje em dia podemos chegar a muitos jovens londrinos e a cada vez mais pessoas em todo o mundo, nos locais onde podemos voltar a trabalhar em parceria. Esperamos que isso enriqueça todo o nosso trabalho."

Além disto, a LSO planeia ressurgir ao vivo e continuar a expandir o seu âmbito digital. Empenhando-se de forma bastante clara em adaptar-se a estes tempos de mudança.

 "Estamos a laborar imenso online no nosso programa digital." explica Kathryn. "Temos a esperança de regressar também ao Barbican, em Maio, com audiências ao vivo. Mas há ainda alguns projectos encantadores online liderados Simon Rattle, para o futuro."

Haverá uma filosofia em que se apoie? "Acho que teria de ser sobre manter o optimismo," responde Kathryn. "A crença de que as coisas vão melhorar. Sim, haverá solavancos ao longo do caminho para todos nós. Mas se conseguirmos manter esse otimismo e espírito positivo ao encarar essas coisas à medida que avançamos, podemos ultrapassá-las. Fui afortunada por ter tido um pai com um temperamento equilibrado, que conseguia ver sempre os aspectos qualquer circunstância. Penso que esse tipo de resiliência é algo que espero que as pessoas possam encontrar e desenvolver interiormente. A minha geração nasceu no pós-guerra, onde tudo era possível e vimos essas oportunidades e forjámos o futuro. Não tenho a certeza de ser esse o caso dos millennials e dos jovens de hoje. Mas penso que se eles conseguirem desenvolver resiliência e optimismo, isso será benéfico."

Embora seja apaixonada pela música erudita, quando está longe do trabalho Kathryn alimenta a mesma paixão de música popular. Quando (frequentemente) se lança ao trilho das suas caminhadas, Bob Dylan, Nina Simone, Charlie Parker ou Dixieland Jazz (o jazz tradicional) são a sua escuta mais frequente. "Adoro a descarga de energia, as atividades ao ar livre, e isso também me ajuda a relaxar."

A LSO tem trabalhado de perto com a Yamaha, uma parceria reforçada ao longo do último ano, algo que ela pretende exaltar "YA Yamaha tem sido um parceiro maravilhoso durante todo o período de confinamento," detalha Kathryn, "ao fornecer equipamentos digitais, de modo a chegarmos a uma comunidade mais ampla durante estes tempos complicados. Estamos ansiosos por desenvolver essa parceria no futuro."

Kathryn é um modelo de liderança por exemplo, cujo impulso e dinamismo (aliados à sua integridade e ligação aos músicos, aliados empresariais e colegas) são aquilo em que consiste a sua história de sucesso duradouro.

Para saber mais sobre Kathryn McDowell e a London Symphony Orchestra:

https://lso.co.uk/


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