Dia Internacional do Jazz: Recordamos Chick Corea

Ao celebrarmos o Dia Internacional do Jazz 2021, os artistas e técnicos da Yamaha prestam homenagem ao génioChick Corea!

Ter mudado o curso da música apenas por uma vez teria marcado Chick Corea como um inovador digno de nota, mas ter constantemente revolucionado a direção do jazz ao longo da sua vida é a definição do próprio conceito de génio. De facto, tal foi a sua versatilidade como improvisador no piano jazz, teclista e condutor de bandas, que o seu legado é profundamente sentido em vários outros géneros, incluindo música latina, rock e clássica, numa carreira que se estendeu por seis décadas.

Tendo tocado, no início da sua carreira, com alguns dos maiores pioneiros do jazz – incluindo Cab Calloway, Sarah Vaughan e Stan Getz – tornou-se uma figura chave a ajudar o trompetista Miles Davis a transportar o jazz para territórios totalmente inovadores e anteriormente inimagináveis, com uma série de álbuns que detonaram paradigmas, como 'In A Silent Way', 'Bitches Brew' e 'On The Corner'.

Na mesma medida, desbravou caminhos com ensemble avant-jazz Circle, além de expandir os seus horizontes com a sua banda de fusão Return To Forever. Chick Corea foi tão influente e vital para o jazz moderno que as suas composições 'La Fiesta', 'Spain' e 'Armando's Rhumba' se tornaram standards para uma nova geração de músicos.

Tendo recebido o prestigiante National Endowment For The Arts Jazz Master, em 2006, a sua carreira continuou até à sua morte aos 79 anos de idade, em Fevereiro de 2021. Então, as suas contribuições culturais tinham sido reconhecidas por uns espantosos 23 Grammy Awards, mais as incríveis 60 nomeações.

Na Yamaha orgulhamo-nos de ter trabalhado de perto com Chick Corea, desde 1967. Em 2015, referindo-se ao seu novo Yamaha CFIIIS Grand Piano, disse Chick Corea: «Se tenho uma ideia do que quero que seja um som e o ponho no piano, o que acontece com este piano é que ele é capaz de me devolver aquilo que a minha imaginação, no seu melhor, me diz ser. A resposta do piano é tão bela que me inspira a continuar a tocar».

E, como evidenciado pelos amplos elogios dos Artistas Yamaha Jazz que foram inspirados por ele, Chick Corea continuará sem dúvida a criar tendências durante muitas décadas...

Testemunhos

Antonio Faraò

Pianista e Compositor

Ainda que já não esteja entre nós, Chick Corea permanece um mestre. Influenciou-me muito. O seu toque cru e o seu brilhantismo eram únicos e instantaneamente reconhecíveis. Penso que McCoy Tyner influenciou Chick Corea e pode-se ouvir essa inspiração no álbum 'Now He Sings, Now He Sobs'. Também intui que ele assimilou músicos clássicos como Béla Bartók, sem nunca perder a sua grande personalidade, além de possuir a sua genialidade, o que foi verdadeiramente diferenciador. A lição que Chick Corea nos ensinou é a de ser capaz de assimilar sem perdermos a nossa personalidade.

Omar Sosa

Pianista e Compositor

No Chick Corea encontrei um mundo de música que me abriu horizontes e alinhou a minha sensibilidade harmónica numa trajetória que continuo a explorar ainda hoje em dia.

Aos 16 anos de idade e a ouvir 'Return to Forever', passei um Verão inteiro a transcrever e a tentar reproduzir os seus solos... Uma experiência que me inspirou a abraçar a fusão como a abordagem fundamental da minha criação musical. Chick Corea é – e continua a ser – um dos mais importantes catalisadores para muitos músicos cubanos – pianistas ou não.

Fui apresentado aos pianos Yamaha pelo Chick e sinto-me muito grato por agora fazer parte da linda família Yamaha. Agradeço ao Chick por toda a magia e sabedoria que nos deixou. Que o seu Espírito ilumine sempre a nossa música e nos acompanhe neste belo mundo de criação e interpretação musical!

Chris Minh Doky

Baixista e Compositor

Nunca tive a honra de tocar com Chick Corea, mas estive com ele em várias ocasiões e fiquei sempre impressionado com a sua bondade, curiosidade e interesse genuíno. Por sorte, trabalhei com muitos dos músicos que colaboraram com ele durante anos. Sentir o seu espírito através da forma como tocavam sempre me inspirou e é também uma lembrança distinta e presente do seu profundo impacto.

O meu primeiro encontro com a sua música foi em adolescente com "Part 2", do álbum "Three Quartets". Fiquei pasmado – não só pelo seu distinto som individual, mas também pela sua musicalidade, a sua visão abrangente e a forma como compôs, abrindo espaço para cada membro da banda.

As composições de Chick Corea são ilusoriamente simples para os ouvidos, mas deslumbrantemente desafiantes para tocar. Há também uma enorme liberdade na sua música, mas requer a nossa total atenção e criatividade para honrar esse dom. E ainda assim, com toda esta liberdade, reconhecemo-lo e ao seu som imediatamente.

É difícil afirmar qual a parte mais importante do seu génio. Não faz sentido destacar uma. Todos os aspetos da sua musicalidade viverão para sempre. Irá inspirar, ensinar, iluminar, acalmar, energizar as gerações vindouras. Neste momento, penso na forma como ele tocou e compôs. Ele tornou essencial, mais do que nunca, que a música seja um esforço de grupo, em todos os níveis e em qualquer momento de interação. Tocar, improvisar e compor como ele fez, só pode inspirar a alcançar as estrelas.

Nils Landgren

Trombonista e Compositor

Chick Corea é uma enorme fonte de inspiração para qualquer músico de improvisação.

A primeira vez que tive contato com o seu talento musical foi em 1971, ao ouvi-lo tocar no álbum 'Miles Davis Live At Fillmore'. A música era de cortar a respiração e o Chick também, a tocar piano elétrico. Era um som que nunca tinha ouvido e soube imediatamente que esta era a música do futuro.

Quando o terceiro álbum de estúdio de Return To Forever, 'Hymn Of The Seventh Galaxy', chegou aos meus ouvidos, em 1973, fiquei mais uma vez totalmente sem ar com a potência e a musicalidade do disco.

A certa altura, recebi uma oferta para me juntar à banda de Chick. O seu empresário na altura, Ron Moss, contatou-me e perguntou-me se estaria interessado. Estava, mas não aconteceu. Ainda me sinto grato por ter sido sequer considerado.

Hoje, sou um pouco mais velho mas, assim espero, permaneço um aspirante, e só desejava que o Chick ainda estivesse entre nós. Ele é uma eterna fonte de inspiração para todos os músicos improvisadores e, enquanto viver, vou acarinhar a sua memória.

Enrico Pieranunzi

Pianista e Compositor

Escrever estas palavras é um privilégio pesaroso. Chick Corea foi um músico único, brilhante e generoso que trouxe beleza e emoções a milhões de pessoas com a sua música. O seu irrepreensível ecletismo foi uma força sem precedentes, era simplesmente o desejo de conhecer, de explorar, de ir além. A sua abordagem física ao piano, o seu incrível motor rítmico, as suas composições. Tudo isto deve ser recordado hoje, num dia de celebração da música que ele honrou ao máximo. O Festival da Música, como "La fiesta", a sua famosa canção. Para o Chick, a música foi sempre um festival, podemos senti-lo em cada uma das suas notas. Ele lembrou-nos disso pouco antes de nos deixar, inesperadamente, há alguns meses atrás.

Pessoalmente, é difícil esquecer o primeiro impacto da sua música. Ouvir o seu arrebatador disco de culto "Now he sings, noe he sobs" foi, para mim, um ponto de viragem. Disse-lhe, na primeira vez que nos encontrámos, em 1984. Disse-lhe também – e ele riu-se bastante – que tinha "roubado" várias coisas reveladas nesse disco. Ele era também um grande amigo meu e vou sentir a sua falta, vamos todos sentir a sua falta.

Reuben James

Cantor, Pianista e Compositor

Admirava imenso o Chick e encontrei-me com ele várias vezes. Vi-o a tocar ao vivo com o seu trio e recordo como a sua técnica era perfeita – o que me deixou totalmente rendido! O Chick era super humilde e uma jóia cada vez que nos encontrávamos.

Sorin Zlat

Pianista de Jazz e Compositor

Para mim, Chick Corea foi um dos maiores pianistas jazz de sempre do planeta.

Tinha 15 anos de idade quando o ouvi pela primeira vez. O meu pai trouxe-me uma cassete de vídeo com um concerto do seu projecto The Chick Corea Elektric Band e fiquei deslumbrado e cativado com a sua música e som únicos.

Desde esse momento, senti que o Chick Corea seria o músico a inspirar-me e guiar-me, através da sua música, na minha carreira como pianista jazz. Muitas das minhas composições são influenciadas pelo seu estilo. Estas incluem elementos dos géneros musicais flamenco, latino e funk, que ele utilizava frequentemente. Foi isto que tornou a sua música tão complexa e singular.

Penso que foi por ter gostado tanto da sua música – e foi uma inspiração tão importante na minha carreira – que o destino me ajudou a conhecer pessoalmente o Maestro. Em 2017 tive a honra de atuar como seu ato de abertura no Jacksonville Jazz Festival. Nunca esquecerei as palavras que ele me disse, depois de ouvir a minha atuação: «Continua o bom trabalho e partilha o teu talento com o mundo!»

Obrigado pela música, Maestro! Graças a si, a Terra é um lugar muito mais bonito!

Cesare Picco

Pianista e Compositor

Chick Corea tem sido uma fonte inesgotável de inspiração, geração após geração. O seu 'Children's Sons' foi um portal durante a minha adolescência. Considero a sua obra-prima 'Spain' como um dos primeiros exemplos da World Music. Chick Corea ensinou-nos a todos a ser músicos sem fronteiras, procurando a beleza em milhares de formas e feitios.

Simon Oslender

Pianista, Organista, Teclista & Compositor

Chick Corea será sempre uma tremenda inspiração incrível para mim – a sua forma de tocar, as suas composições, mas sobretudo a sua atitude; nunca deixou de aprender e experimentar coisas novas, procurando formas inovadoras de expressar a sua inigualável imaginação musical.

Soava sempre viçoso, reinventando constantemente a sua arte, mantendo-se sempre fiel a si próprio. Para mim, esse é o grande objectivo como músico jazz e Chick Corea foi o epítome desse sonho. Que ele descanse em paz e continue a viver na sua incrível música e na sabedoria que graciosamente partilhou connosco.

Gwylim Simcock

Pianista e Compositor

O Chick esteve sempre no topo da árvore genealógica dos meus heróis musicais, desde que comecei a ser músico jazz na minha adolescência. Uma visita de estudo a um dos seus concertos com o Gary Burton - tocando música do álbum 'Native Sense' – foi uma experiência inolvidável e jamais esquecerei como foi inspirador ouvi-lo tocar naquela noite.

Se tivesse que destacar algo na sua forma de tocar, penso que o mais importante a mencionar agora seria o sentido de pura diversão quando ele tocava. Como uma criança a brincar num parque de areia! Encontrando ideia atrás de ideia e a desenvolvê-las até desfechos alegres e enérgicos.

Ele foi uma enorme inspiração para todos os músicos, mas especialmente para os mais jovens. É tão fácil concentrar-se nos rudimentos e técnicas de fazer música quando se está a estudar, mas criar e transmitir tanta alegria e luz na própria música foi um dom muito especial e único, e algo a que todos nós devemos aspirar.

Testemunhos dos Técnicos de Piano

Importa também lembrar as ferramentas de ofício de Chick Corea – neste caso o Yamaha CFX Grand Piano. E os técnicos que asseguravam que os instrumentos de Chick Corea estavam sempre no auge das suas capacidades partilham as suas memórias sobre trabalhar com o titã do jazz.

Oscar Olivera

Antigo Técnico de Piano da Yamaha (Espanha)

Embora se tenha tornado cada vez mais difícil abordar os meus sentimentos, na medida em que continuo a trabalhar e a viajar durante esta pandemia, tenho lutado por conter as minhas lágrimas pela perda do Chick Corea.

Contatei com Chick Corea pela primeira vez como estudante de piano, em adolescente. Via os seus cartazes e discos nas lojas e ouvia as pessoas falarem do seu génio musical. Adorava que ele não só se expressasse com um piano, mas que também conseguisse fazer sobressair o melhor de qualquer teclado electrónico. Ele fez a música parecer simples e divertida – mesmo quando era séria – e assim se tornou um dos meus ídolos da juventude.

Como técnico de piano, sou grato pela formação que recebi na Yamaha, que me colocou em boa posição para sair em digressão com Chick Corea. Tive a honra de tratar o seu piano durante os últimos 16 anos. O seu tour manager, Brian Alexander, também foi técnico de piano e, depois da primeira digressão, disse-me que Chick gostou do meu trabalho. Foi tão gratificante ouvir isso que, apesar dos meus nervos, continuei a fazer o meu melhor pelo homem que era tão importante para mim e para tantos outros.

Mas Chick não queria ser visto como alguém importante. Apenas gostava muito de fazer música com outros, no estilo que quisesse. Nunca se queixou do piano. Pelo contrário, elogiava continuamente o trabalho e sabia como tirar o melhor partido do seu instrumento sem nunca o maltratar. O piano era o seu melhor amigo. Cuidava dele e dava-lhe muita importância (mas não a si próprio).

Recordo-me do final de um concerto, em que dois miúdos se aproximaram do palco com discos de vinil debaixo dos braços, carregando marcadores. Estavam a pedir um autógrafo antes mesmo de os outros músicos terem chegado ao camarim. Nesta altura, Chick já tinha realizado vários concertos em noites consecutivas e este tinha sido um espetáculo de três horas, mas inclinou-se na boca do palco para chegar até eles, acenou-lhes, assinou os seus álbuns e tirou uma fotografia.

Subitamente, a multidão, em vez de sair, aglomerou-se para o conhecer e Chick Corea saudou os seus fãs, assinou os seus álbuns e tirou uma foto com quem quisesse uma. Chick ficou ali para os seus fãs. Os fãs eram tão importantes para ele como os músicos com quem ele trabalhava.

Esse era o verdadeiro Chick Corea. Era um homem humilde, trabalhador, disciplinado e respeitador. Aquele era o verdadeiro Chick Corea, embora lhe chamássemos Chick Corea The Genius.

Possuía uma classe magistral reconhecida por todos, tanto por músicos como não-músicos. Obrigado, Maestro, o meu ídolo eterno.

Gian Piero Terravazzi

Técnico de Piano Yamaha (Itália)

São muitos os artistas que confiam a manutenção do seu instrumento aos seus técnicos. O resultado desta colaboração manifesta-se na performance do próprio instrumento, na medida em que os resultados são feitos por medida para o artista. Por esta razão, a preparação de um piano começa com bastante antecedência, para permitir uma configuração otimizada mesmo antes de tocar. Mas a preparação não pára aí. Depois de o piano ser instalado no palco e verificado novamente, é essencial assistir ao ensaio de som do artista, para ouvir algumas das nuances sonoras que possam ser melhoradas com algum retoque, mesmo antes do início da performance.

Antes de conhecer o Chick, acreditava que apenas os músicos clássicos eram extremamente exigentes quanto à qualidade e preparação dos seus instrumentos. Mas os pedidos do Chick iam muito além daqueles...

Na Primavera de 2003, o primeiro clube europeu Blue Note abriu em Milão. Chick Corea foi o primeiro artista a tocar lá e fez dois espetáculos por noite durante uma semana inteira. Algumas semanas antes dos espetáculos, recebemos vários pedidos de Chick Corea relacionados com o piano Concert Grand que iria utilizar. Estes incluíam o seu historial de manutenção, em que circunstâncias o piano era normalmente utilizado, se os pedais tinham sido ajustados corretamente e quem era o técnico do piano. Também foram incluídos uma série de procedimentos recomendados para a afinação do piano, bem como protocolos para a aclimatização do instrumento, a fim de assegurar a sua máxima eficiência durante a atuação. Esta era a seriedade e o elevado nível de atenção aos detalhes com que este grande do jazz abordava o seu ofício.

Conheci pessoalmente o Chick Corea naquele palco, diante de um grande piano de cauda YAMAHA CF. Passei uma semana a assistir este grande artista e os meus deveres incluíam afinar o seu piano antes dos ensaios da tarde, tal como antes de cada uma das actuações da noite. No dia do último concerto, encontrei dentro do seu piano um cartaz assinado com os seus agradecimentos, bem como um CD assinado. Guardo essa atenção dele com gratidão e recordo com verdadeira estima a sua extraordinária capacidade de agradecer, como ele desejou fazer através da mensagem na sua saudação final, antes de deixar este mundo.

Eis o que escreveu: «Quero agradecer a todos que, ao longo da minha viagem, ajudaram a manter vivas as chamas da música. É a minha esperança que aqueles com inclinação para tocar, compor, dar concertos ou qualquer outra coisa, o façam. Se não for por vocês próprios, então que seja por todos os outros. Não apenas porque o mundo necessita de mais artistas, mas porque é também uma enorme diversão.

E para os meus espantosos amigos músicos, que sempre foram como família para mim: Foi uma benção e uma honra aprender e tocar com todos vós. A minha missão foi sempre transportar a alegria de criar onde pudesse e tê-lo feito com tantos artistas que tanto estimo foi a maior riqueza da minha vida.»

Trabalhei com este cavalheiro do jazz em várias outras ocasiões, incluindo atuações no Conservatório de Milão. Aí, mostrou que tanto estava em casa com a música de Scarlatti e Bach como com o jazz. Estes foram momentos de completa alegria musical.