À conversa com Luísa Tender

É já no dia 25 de junho que tem inicio o Concurso de Piano de Oeiras no Auditório principal do Centro de Congressos Taguspark, em Oeiras. Aproveitamos esta ocasião para conversar com a presidente do júri Profª Luísa Tender. Falamos do concurso, da carreira da Profª Luísa Tender, sobre a música, e claro, sobre o piano.

Luísa Tender, uma das mais consagradas pianistas portuguesas, é natural do Porto e estudou no Conservatório do Porto e também na Escola Superior de Música na mesma cidade. Fora de Portugal, teve passagens por Londres, no Reino Unido, e Paris, França.

Yamaha: No final do mês ocorrerá a 3ª edição do Concurso de Piano de Oeiras, como descreve este concurso?
Luísa Tender: Este é um concurso que já se impôs no panorama pianístico português, e em relação ao qual muitos jovens pianistas têm grandes expectativas! O Concurso de Piano de Oeiras é sinónimo de bom piano, nos vários níveis etários, e também da competitividade saudável que se espera deste tipo de evento.

Yamaha: Não sendo a música uma competição, qual a importância deste tipo de concursos para os jovens emergentes?
Luísa Tender: A música em si não é uma competição, mas a vida de executante musical, em particular no piano, envolve muitos momentos competitivos. Para mim, a maior importância dos concursos reside na preparação que dão aos jovens pianistas para uma vida profissional que, em si, é muito competitiva. Para além disso, o concurso é um palco, uma oportunidade de um jovem pianista se mostrar ao mundo. E, está claro, uma oportunidade para saber quem são os seus pares, como tocam, o que tocam - e, já agora, conviver com eles (difícil neste momento de pandemia).

Yamaha: Apesar da pandemia, foi possível realizar o evento e reunir um número considerável de participantes. A que atribui este sucesso?
Luísa Tender: Os jovens pianistas, que estiveram meses a fio em casa a estudar, estão ansiosos por mostrar o seu trabalho. E o júri, naturalmente, ansioso por os ouvir. Todos queremos, dentro daquilo que é considerado seguro no momento actual, voltar aos palcos.

Yamaha: A Prof. Luísa Tender é uma pianista consagrada, qual é o segredo de uma carreira tão consistente e prolífica, e em que projetos está a trabalhar atualmente?
Luísa Tender: A minha carreira é um pouco «à margem» das carreiras consideradas normais. Gosto de fazer poucos concertos, mas bons. Esta opção é dificilmente compatível com aquilo que se espera de um pianista em actividade plena, mas é a minha - tem vantagens e desvantagens. Preciso de ter uma vida tranquila para poder tocar bem. Tenho que ter tempo para estudar o repertório. Além disso, pessoalmente, não conheço sensação mais desagradável do que a de estar no palco e sentir que, para estar ali, deixei de dar aos meus filhos pequenos aquilo que eles requerem de mim. Também por isso, não hesito, em alguns momentos, em não aceitar alguns desafios profissionais (por exemplo, pelo menos nesta fase da minha vida, os que envolvem ausentar-me de Portugal durante períodos muito longos). Mas, quando aceito, aceito de alma e coração. Em geral, estudo muitíssimo. Tenho vários projectos em mãos, de entre os quais uma nova gravação, cujo repertório é ainda segredo e por isso não lhe revelo aqui! Depois, tenho os meus concertos e vários projectos em curso na área do ensino da música, que é uma das minhas grandes paixões. Acabo de terminar um doutoramento em Ensino e Psicologia da Música e estou envolvida em investigação na área do ensino. Sou professora titular de piano na ESART e investigadora no CESEM. Estou também envolvida na EPTA Portugal (European Piano Teachers Association).

Yamaha: Como descreve a nova geração de pianistas? Temos o futuro assegurado?
Luísa Tender: Têm o futuro assegurado se, cumulativamente, forem trabalhadores, excepcionalmente talentosos, resilientes e imaginativos. Como em qualquer área profissional, quem tiver estas características consegue, quase inevitavelmente, impôr-se. Para além destas características, há uma que faz verdadeiramente a diferença: o gostar incondicionalmente de Música. Quem toca porque precisa de tocar, tem um futuro seguro e independente de todos os imponderáveis: a certeza de que gosta de tocar, «no matter what». O que acabo de dizer parece poético, mas não é. Num mundo profissional difícil como este, a necessidade interior de tocar é a garantia única de que não nos arrependemos de ter enveredado pela Música.

Yamaha: Qual o conselho que daria aos jovens que se querem iniciar na música e no competitivo mundo dos concursos?
Luísa Tender: Estudar, estudar, estudar. Ouvir outros pianistas - absolutamente. Adquirir bagagem intelectual, enriquecer-se por dentro. Só assim terão algo a transmitir. Se não tiverem, por muito bem que toquem, correm o risco de ser como escritores que escrevem sem erros, mas não têm nada para dizer.

Yamaha: Falando de pianos, já conhece o piano de concerto Yamaha CFX?
Luísa Tender: Sim, e adoro.

Yamaha: Durante o festival a Yamaha vai organizar uma série de seminários “O Piano Hoje”, que percorre a história e os desenvolvimentos tecnológicos aplicados ao piano. Qual é a sua opinião sobre a introdução e interligação da tecnologia com o mundo da aprendizagem?
Luísa Tender: Sou, o mais possível, a favor desse tipo de interacções. As tecnologias podem ser muito úteis para aprender, em qualquer área do conhecimento. A área do Piano não é excepção.

Yamaha: No que respeita à aprendizagem, motivação e evolução dos jovens estudantes, que importância atribui à qualidade do piano que têm disponível para estudar?
Luísa Tender: A qualidade do piano de estudo é importante. Mas, como sabemos, é frequente os alunos (e até os profissionais) estudarem em maus pianos. Há quem defenda que estudar em instrumentos fracos, ou em mau estado, nos torna mais capazes de vencer dificuldades técnicas. A ideia subjacente é a de que quem toca bem num piano mau, tocará excepcionalmente bem num piano bom. Eu, pessoalmente, não me identifico com esta opinião. Acho que seria óptimo todos os pianistas estudarem em pianos excelentes. Como essa não é a realidade, então há que fazer o melhor possível com o piano que cada um tem à disposição.

Yamaha: Gostaria de deixar alguma mensagem final?
Luísa Tender: Quero desejar as maiores felicidades aos concorrentes do Concurso de Piano de Oeiras. E, aos mais novos, dizer o seguinte: se se sentirem nervosos, com um aperto na barriga e o coração a bater depressa; se derem convosco a pensar que se vão enganar; ou se desejarem, à última da hora, não entrar no palco, acreditem em mim: tudo isso é normal. Os pianistas, novos ou velhos, experientes ou aprendizes, sentem isso. Alguns dizem-no, outros não. O segredo é chegar ao pé do piano, sussurrar-lhe uma saudação carinhosa, e deixá-lo tocar.

Concurso de Piano de Oeiras
Centro de Congressos Taguspark - Oeiras
25 a 27 de Junho de 2021

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