O novo YTR-8310Z por Bobby Shew

Depois de tantas décadas a ver e ouvir os trompetistas a experimentar instrumentos nas lojas de música, em conferências, feiras, etc., decidi fazer um artigo sobre como é que eu acho que se deve testar um instrumento e espero contribuir para uma maior sensibilidade durante este processo. Testar um instrumento sem ter uma visão clara ou perceber como funciona o nosso corpo, o nosso cérebro ou a nossa mente, irá muito provavelmente resultar numa enorme deceção ou sem perceber como é que responde o trompete que estamos a experimentar.

É de senso comum, somos “criaturas de hábitos!”

Desde crianças que estabelecemos padrões na aprendizagem. Desde gatinhar, caminhar, correr e TUDO o que aprendemos no nosso processo de desenvolvimento e crescimento. Estes padrões, que normalmente chamamos de “hábitos”, são na verdade uma combinação de músculos e nervos conhecidos como padrões “neuromusculares” e que estão diretamente relacionados com a multitude de neurónios no nosso cérebro. Durante muitos anos a medicina tinha a convicção que: “não é possível ensinar um truque novo a um macaco velho”, mas agora sabemos que isso não corresponde à verdade. Nos últimos anos o assunto da neuroplasticidade tornou-se muito presente, com técnicas eficazes e relacionadas que estão a ser desenvolvidas como um meio de mudar velhos hábitos ou como superar hábitos considerados maus. “A propósito, todos estes hábitos imergem ao nível subliminar ou do subconsciente e são frequentemente referidos como alguém que está “piloto automático”.

Desligue o “piloto automático” quando estiver a experimentar um instrumento novo

É normal experimentar um instrumento novo em “piloto automático” uma vez que os padrões estabelecidos ao serem subliminares, desconhecem que estamos a tocar num instrumento diferente. Conscientemente conhecemos as diferenças físicas, mas a forma como vamos abordar o instrumento são resultado dos hábitos subliminares em "piloto automático". Por exemplo, se toda a vida tocamos com instrumentos de calibre largo, a nossa abordagem será a mesma e com os mesmos padrões físicos ao experimentar um trompete novo. Como será certamente do seu conhecimento, os trompetes “Z” da Yamaha utilizam uma tubagem progressiva baseada na tubagem média da caixa de pistões, portanto é muito diferente de um trompete de calibre largo. Como se trata de uma característica muito particular e única, a tendência normal é exagerar na forma como sopramos ao tocar num trompete “Z”, o que irá certamente causar uma reação má e uma sensação “abafada”. Um instrumento de calibre largo requer maior quantidade de ar para atingir os resultados desejados, mas essa quantidade de ar é demasiadamente exagerada em instrumentos com calibres de menor diâmetro. Em outras palavras, não é possível colocar um litro de água num recipiente de meio litro.

Provavelmente já deve ter assistido, e é perfeitamente normal, quando experimentamos trompetes numa feira ou numa convenção imediatamente tentamos tocar o mais alto possível. Na maioria dos casos, este comportamento revela uma falta de conhecimento de como devemos testar e experimentar adequadamente um trompete novo. No entanto, existe uma forma mais inteligente de realizar estes testes. Na minha opinião, sugiro sempre iniciar QUALQUER processo de testes no registo médio e numa dinâmica mezzo-forte. Acho que tocar a escala de Fá (num trompete em Sib) é o ponto de partida ideal, uma vez que o registo médio que representa o registo ideal de um bom músico. Os registos graves e agudos são mais difíceis de dominar e testar logo à partida estes registos pode causar dificuldades acrescidas.

O próximo passo, depois de tocar a escala de Fá e repetir várias vezes as subidas e descidas no registo mezzo forte até nos sentirmos confortáveis, é tocar a mesma escala, mas no registo forte com repetições semelhantes até atingirmos novamente o ponto de conforto. Finalmente, devemos tocar a mesma escala no registo pianíssimo, e repetirmos até nos sentirmos razoavelmente confortáveis. Ao seguir estes passos, vamos ter uma imagem clara de quais as adaptações que temos que realizar para obter os melhores resultados com este novo instrumento. Depois de termos o quadro completo, podemos começar a estender os registos em ambas as direções. O próximo passo lógico é tocar desde o Dó grave ao Dó agudo. Espero que este método seja útil para si. (A propósito, este método funciona com qualquer marca ou com qualquer tipo de instrumentos de sopro, sejam matais graves ou instrumentos de madeira). Obrigado e boa sorte na escolha do seu novo instrumento. Bobby Shew