Como tornar a banda na tua melhor equipa

Enquanto maestro de muitas bandas e ensambles, de nível principiante a profissional, gostava de partilhar as minhas experiências sobre como podem transformar os vossos músicos numa equipa formidável.

Acredito veemente que a atmosfera de trabalho tem de ser positiva. Os músicos estão posicionados em frente ao maestro, preparados para se divertirem e entregarem a sua melhor performance. Por vezes, pode ser difícil para os maestros, independentemente do seu nível de experiência, conhecer os limites dos seus músicos. Pessoalmente, o que realmente funciona muito bem no meu caso, é um bom aquecimento. É verdade, a prática realmente leva à perfeição!

Durante o aquecimento podem focar-se em: começar em simultâneo, parar em simultâneo e melhorar este aspecto todas as semanas. Pratiquem a afinação, individualmente ou em grupo. Façam com que os vossos músicos soem como um todo. Acredito que é preciso errar para melhorar. Certifiquem-se de que o ensemble possui uma boa sonoridade de grupo e façam elogios quando o trabalho é bem feito. É muito importante mencionar todas as pequenas evoluções... acredito que a abordagem “estão quase lá” gera melhores resultados do que comentários negativos.

1.Comecem com o básico

Quando nos focamos no essencial e tentamos encorajar o ensemble a melhorar, conseguimos ver os efeitos positivos. O aperfeiçoamento destas competências básicas melhora cada ensaio e garante que sobra mais tempo para trabalhar a musicalidade. Quando estamos a ensaiar com instrumentos de sopro, muitas bandas utilizam hinos como ferramenta de trabalho, pois ajudam imenso com o som e a afinação. Russell Gray dá-nos imensas dicas e truques úteis no ‘The Messanoic Method’. Mas se esta não for a vossa preferência musical, há muitas outras alternativas.

2.Toquem em conjunto

É uma frase muito simples, mas também uma referência para quase tudo. Não só para o ritmo como também para a articulação, dinâmica, tempo, carácter, afinação e até respiração em sincronia! Também ajuda a construir as bases fundamentais de uma excelente equipa.

3.Fazer magia

Não há espaço para ‘comportamentos de estrela’; enquanto equipa, todos os músicos têm o mesmo valor. Quando tocam em conjunto, não devem soar mais alto, tocar mais rápido ou durante mais tempo que os colegas, a não ser que tenham um solo. Preparem uma boa performance praticando em casa, para que no ensaio consigam realmente contribuir com valor. Depois podem concentrar-se por completo no trabalho de conjunto. É muito interessante ver o produto final... é aí que fazem magia!

4.Conseguir a mistura certa

Quando falamos de concursos e das mais respeitadas bandas de concursos: várias das minhas performances mais bem-sucedidas com bandas resultam da mistura certa de líderes e seguidores, ou da mistura certa de variadas personalidades em cada secção. Isto é algo mesmo muito importante. Boa cooperação e um equilíbrio natural na equipa é a melhor tática. Em equipas desportivas vencedoras, incluindo no futebol, vão encontrar o mesmo equilíbrio perfeito.

5.Expetativa e confiança

Respeitem todos os vossos músicos, tentem desafiar os menos experientes a melhorar. Apelando ao nosso lado de coaching, é importante fazê-los sentirem-se bem e integrados. Desafiem-nos, dêem-lhes informação para que consigam evoluir em casa. Não julguem os seus erros: elogiem para encorajar pequenos passos no caminho do progresso. Expliquem como vai ficar óptimo se treinarem partes específicas da música para se prepararem para o ensaio da semana seguinte! É muito importante que as cadeiras da frente sejam exemplos a seguir. Quanto maior for o apoio e disponibilidade, maior é a probabilidade de alcançar melhorias.

6.A negatividade não produz sucesso

Numa das minhas bandas, um “músico estrela” parecia estar sempre zangado e tinha uma linguagem corporal negativa para com os músicos menos experientes, neste caso em específico para com parte da secção de metais (cornet section), a chamada backrow. Um dos meus truques foi telefonar-lhe e perguntar se podia chegar mais cedo para fazer um ensaio de secção com esses mesmos músicos. Reparei que o seu comportamento mudou durante o ensaio: começou a sorrir e a postura mudou. Mais importante: estabeleceram todos uma boa ligação! Depois do ensaio, disse-lhe que tinha sido exemplar e que seria óptimo para a banda se conseguisse fazer o mesmo com as outras secções. Seis meses depois, a banda ganhou o seu primeiro concurso nacional na Holanda. Foi uma mudança enorme para todo o grupo.

7.Estejam preparados

Certifiquem-se de que estão preparados, qual o tempo que querem marcar nos ensaios, qual a articulação? Como podem explicar de forma rápida e simples? Tentem encontrar palavras para descrever o caráter da música ou pensem numa história. Criem um plano e sigam-no. Claro que é preciso ter alguma experiência para encontrarem a vossa forma mais eficaz de ensaiar. Serem consistentes e positivos com os vossos músicos faz com que tenham confiança em vós. No meu caso, foi extremamente inspirador assistir a ensaios de outros maestros e aprender com a sua abordagem, assim como ver um maestro diferente a trabalhar com a sua banda!

O meu maior sucesso com a Banda de Sopros de Schoonhoven aconteceu entre 2010 e 2014. Durante esses quatro anos vencemos todas as competições em que marcámos presença na Holanda e na Bélgica. Oito vitórias, incluindo o prémio para melhor performance de banda de sopros na edição “Brass in Concert” em 2014. Esses anos felizes incluíram muitos ensaios – criar o mesmo som e estilo podia significar 40 minutos de afinação com hinos e muitas rotinas de aquecimento! Não se trata de um aquecimento individual dos músicos, mas antes de trabalhar as bases em conjunto, após o aquecimento. Experienciei o mesmo com a Spijkerpakkenban e alcançámos seis vitórias em oito competições. A abordagem positiva voltou a dar frutos.

Com base na minha experiência com grupos, escolas de música e bandas jovens, é sempre benéfico ter uma rotina de aquecimento onde podem definir o padrão para os restantes ensaios. Não tentem alcançar todos os objetivos num único ensaio, centrem-se em determinados pontos, porque demasiada informação pode criar dispersão. Quando dão instruções como “toquem mais staccato”, verifiquem o resultado e analisem se houve melhorias. Frases como “sim”, “está melhor” ou “quase lá” funcionam muito bem.

Enquanto líderes de um grupo, conseguimos mostrar muitas coisas sem falar, temos gestos e comunicação não-verbal. Aproveitem a linguagem corporal ao máximo! Espero que se sintam entusiasmados em relação ao vosso próximo ensaio e em criar a melhor equipa possível.

A carreira de Erik Janssen começou com trompetista freelancer e desde então já tocou com algumas das maiores orquestras e ensembles da Europa, incluindo a “Dutch Philharmonic Symphony orchestra”, “Royal Ballet Orchestra”, “Amsterdam Wind Orchestra” e a “National Youth Orchestra”. Ao longo dos anos, tornou-se uma figura de relevo no mundo dos maestros, tendo coordenado uma grande variedade de ensembles, orquestras sinfónicas, bandas militares profissionais, bandas filarmónicas da Europa e variadas bandas de sopros. Já entregou masterclasses na “Amsterdam University of the Arts” e no conservatório “Hanze Prince Claus”, em Groningen. Em 2016, Erik liderou a “European Youth Brass Band” em Lille, França, com um incrível Concerto de Gala. Erik Janssen é reconhecido pela sua energia e performance musicais.