Artist Insights com Russell Gray

A nossa série “Artist Insights” quer trazer ideias frescas e novas abordagens, para ajudar cada um a alcançar o seu potencial musical. Através da proximidade com os artistas, esta série apresenta dicas, truques e experiências de músicos profissionais de todo o mundo... e é um recurso que está sempre disponível.

A arte da interpretação

Neste artigo, quero falar sobre alguns dos pensamentos que me surgem quando estou a interpretar peças musicais. Quando estudo uma partitura, o meu objetivo e responsabilidade é ser o mais fiel possível ao compositor.

Para o conseguir, tenho de estar preparado para pesquisar a história e o contexto da peça. Procuro pistas deixadas pelo compositor, assim como quaisquer informações de contextualização que consiga encontrar. As gravações são bastante úteis (se existirem) e o material biográfico do compositor também. Eventos políticos e históricos próximos da data de composição também podem ser utilizados como fonte de informação para me ajudar a interpretar a música

Também é importante considerar a escala da música para retratar as características mais profundas da mesma. Dó maior, por exemplo, pode sugerir uma felicidade inocente, enquanto que Lá menor pode criar uma sonoridade triste ou melancólica. Sol maior pode transmitir honestidade ou seriedade e Ré maior pode criar um ambiente triunfante, alegre, vitorioso ou de celebração.

vitorioso ou de celebração. Claro que encontrar o tempo certo também é vital. Todas as peças de música têm um tempo específico. Mesmo se for “A Piacere’ (At pleasure ou Ad Lib)”, vai transmitir um sentido de tempo ou ritmo à medida que o músico altera a nota. A música vai continuar a impactar o ouvinte a um nível emocional. Enquanto maestro, tenho de conseguir encontrar o tempo certo, tanto na minha sala de estudo como nos ensaios, mas acima de tudo quando estou num concerto ou competição, onde há muita pressão. Aqui está uma lista de tempos básicos e as marcações de metrónomo correspondentes.

Largo = 40-60bpm

Adagio = 60-76bpm

Adagietto

Andante Moderato

Andante = 76-108bpm

Andantino

Moderato = 108-120bpm

Allegretto

Allegro Moderato

Allegro = 120-168

Vivace

Vivacissimo

Presto = 168-200

Se o tempo escolhido for mais de 10 beats por minuto, independentemente da escolha do compositor, a música vai ganhar outro carácter e posso ser acusado de não respeitar os desejos do compositor.

As marcações de metrónomo não estavam presentes nas partituras antes de 1817, ano em que que Beethoven utilizou pela primeira vez os BPM’s nas suas sinfonias. Anteriormente, todas as indicações eram feitas por palavras, geralmente em alemão ou italiano.

Antes de Beethoven, o tempo estava sujeito a interpretação. Mozart tinha várias formas de descrever as suas solicitações de tempo e regra geral não estavam relacionadas apenas com a velocidade, mas também com o carácter da música. Há várias formas de interpretar o “Allegro”, por exemplo. Mozart tinha mais de 12. Além disso, também podemos questionar a definição de “rápido” de uma pessoa do século XVIII. Talvez um cavalo a correr, uma bala de canhão ou uma bala fosse algo considerado rápido. No século XXI, a nossa perceção de velocidade é completamente diferente – a estação espacial internacional desloca-se a mais de 27,500 quilómetros por hora...

Mahler era muito específico sobre as suas intenções, ao escrever parágrafos completos de instruções para o maestro. Tenho aqui um bom exemplo presente na sua primeira Sinfonia: “Von hier an in sehr allmaehlicher aber stetiger Tempo Steigerung bis zum Zeichen“ – Daqui em diante, a um ritmo bastante gradual, mas de forma constante, aumentem de acordo com a sinalização.”

Os compositores contemporâneos utilizam uma mistura de ambos e podemos ter maior confiança nas suas intenções graças às suas marcações, precisas e explícitas. No entanto, se tiver uma performance a estrear nas minhas mãos, vale a pena lembrar que o compositor provavelmente não ouviu a versão final da peça, por isso é essencial haver alguma antevisão da minha parte, a par de uma colaboração próxima com o compositor (se permitido), de modo a alcançar uma performance o mais autêntica possível.

Durante a minha vida profissional, tenho sempre o objectivo de representar fielmente o que acredito ser a visão original do compositor. Mas cabe ao ouvinte decidir sempre o nível de precisão...

Russell Gray

Russel Gray é um dos maestros e trompetistas mais respeitados e bem-sucedidos do mundo. Já editou seis gravações a solo, sempre com grandes críticas. Simultaneamente, dedica muito do seu tempo a trabalhar com jovens músicos.

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