1º Festival de Clarinete do Algarve – à conversa com Rui Travasso


Terminou o 1º Festival de Clarinete do Algarve promovido pelo Conservatório Regional do Algarve Maria Campina.

Aproveitámos a oportunidade e estivemos à conversa com Rui Travasso, clarinetista e organizador deste primeiro festival, já pautado pelo sucesso

Yamaha: Porquê um Festival de Clarinete no Algarve?

Rui Travasso: Todos os anos existem dezenas de eventos que estejam relacionados com o clarinete (masterclasses, concursos, entre outros) e o mais a sul que existe é na zona de Lisboa ou Évora que ficam a cerca de 250 kms de distância. No entanto se juntar-mos ao Algarve o Baixo Alentejo estamos a falar de mais de uma centena de estudantes de clarinete que parecem completamente desenquadrados do resto do país em termos geográficos. A intenção deste festival é de descentralizar o clarinete dos lugares habituais, fazer com que os grandes eventos aconteçam também no sul do país.

Yamaha: Que nos podes contar sobre os Artistas convidados?

Rui Travasso: Conhecia melhor o Nicholas Cox com quem tenho o prazer de trabalhar regularmente em Manchester. É um músico e pedagogo excecional que sabe realmente de música. O Nick não toca nada ao acaso, as suas linhas melódicas e ideias musicais têm sempre um fundamento por traz e isto mostra-nos o quanto ele sabe de música. O Camilo Irizo que fiquei a conhecer bastante melhor durante o festival é sem dúvida em especialista em música contemporânea. Fiquei de facto impressionado com o seu controlo sobre o instrumento e como ele consegue montar as suas ideias musicais mesmo numa peça muito difícil como a Sequenza de Berio que ele executou num dos concertos.

Yamaha: A nível mais pessoal, quem foi o artista que mais te influenciou como clarinetista?

Rui Travasso: Foi sem dúvida Walter Boeykens com quem estudei durante dois anos na Holanda. Impressionava-me todos os dias não só pelo que me transmitia nas aulas mas também pela forma como me tratava pois sempre me fez sentir que eu era um músico igual a ele, apesar de eu ter a perfeita noção que não era nem sou ou serei.

Yamaha: Qual a tua impressão sobre os clarinetes Yamaha?

Rui Travasso: Fui um dia a Lisboa experimentar os clarinetes Yamaha e até fui com o meu colega de orquestra Pedro Nuno. Confesso que não íamos com grande expectativa mas quer ele quer eu mudámos logo a opinião quando começámos a experimentá-los. A minha opinião pessoal é que é um instrumento com uma emissão extremamente fácil como numa tinha encontrado e muito equilibrado. É um instrumento que me veio a facilitar bastante a vida na orquestra em termos de afinação e que tem um timbre que funciona bastante bem com os meus colegas. Estou realmente muito satisfeito.

Yamaha: O que é que a música significa para ti? E o clarinete claro.

Rui Travasso: A música e o clarinete apareceram-me na minha vida quando tinha 9 anos e ainda hoje a minha mãe diz que eu para a escola não pegava nos livros mas para tocar clarinete ela nunca me precisou de me dizer. Continua a ser assim. Quando estou um dia sem tocar é como se me faltasse alguma coisa, está enraizado em mim e nem eu percebo como é que isto aconteceu. Sou um felizardo por fazer o que gosto e não me imagino a fazer outra coisa.

Yamaha: Quais os locais que gostas mais ou gostaste mais de tocar?

Rui Travasso: Já toquei em grandes salas como o auditório Gulbenkian, CCB, o próprio Teatro das Figuras em Faro onde toco regularmente entre muitos outros e, nos sítios mais esquisitos como num cacilheiro, feiras alternativas ou em cima de carroças. Na minha opinião o sítio é o de menos, o que realmente me faz diferença é o público. Se o público está realmente interessado em ouvir-te tu sentes isso no palco, consegues ver pelos olhares e sentir o ambiente e isso sobrepõe-se ao espaço físico que te rodeia.

Yamaha: Que mensagem tens para os jovens clarinetistas?

Rui Travasso: Não há impossíveis. Não fiquem com a vossa mente fechada e experimentem ao máximo o que a música e o clarinete vos pode dar.

Rui Travasso

Natural de Évora, Rui Travasso, é licenciado pela Escola Superior de Música de Lisboa em Clarinete, Pós-graduado em performance clássica pela Zuid- Nederlandse Hogeschool voor Muziek (Holanda) e Mestre em ensino da música pelo Instituto Piaget de Almada. Estudou com Sérgio Oliveira, Carlos Alves, Walter Boeykens entre outros.

Tocou com várias orquestras Portuguesas como freelancer e gravou albums com Primitive Reason, Quarteto Con´tradição, Mara, Catarina Pinho e Joana Amendoeira.

Atualmente é Solista A da Orquestra Clássica do Sul e aluno do Doutoramento da Universidade de Sheffield (Inglaterra) onde investiga o tema Benny Goodman Under a Technical Point of View sob orientação do Dr. George Nicholson e da Dra. Renee Timmers na parte investigativa e do Prof. Nicholas Cox na parte performativa.